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Quando uma mulher de esquerda encontra robôs bolsonaristas

Quando li Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, nos dias da juventude, curti aquele esborro imaginário como algo fantástico, mas impossível!

A criatividade como recurso literário sempre me ganhou, e durante muito tempo mantive a ideia da impossibilidade de implantação de sistemas endêmicos, com produção de seres humanos em série com tal rigor.

Mas eu estava equivocada.

É possível, sim, produzir castas distintas, sob o custeio da mesma base de manutenção ideológica em um sistema social.

Para isso acontecer, basta associar alguns elementos, como dinheiro, ciência, tecnologia e política; daí torna-se possível manipular ao ponto de robotizar!

Para esta crônica, o projeto que Bolsonaro implementa no descarado fervor da dominação classista/religiosa é produto de investimento em psicologia das massas, semiótica, e compra de almas.

O aleatório não geraria tanta similaridade comportamental dentro das imensas bolhas, que tendem à explosão violenta, punitiva e letal aos que se tornam referências de autonomia histórica, social, cultural.

Era uma vez um tarde na qual eu mesma fui a um centro de compras, escolher novas flores para meu jardim, e vestia uma roupa de verão, com uma camiseta singela.

Porém, a camiseta trazia uma linda frase: Espíritas à Esquerda.

Tal não foi minha surpresa, quando três jovens rapazes começaram a falar alto na minha direção, usando palavras de baixo calão com os “esquerdistas” que tentam atrapalhar o governo.

Como não tenho prática de assinar recibo em branco, não tomo para mim este tipo de provocação e sigo meu caminho de rosto erguido, sem apressar o passo, analisando melhor o perfil de cada um.

Notei que apesar de serem três pessoas, eles não conseguiam passar de apenas uma.

Não tinham rosto de ser humano, eram robotizados nos estilo classe média; brancos, bem vestidos, exibindo relógios brilhantes e espumando uma raiva feroz, que lhes enfeiava as bochechas.

Conhecendo a covardia que também caracteriza tais misóginos, mantive distância segura dentro do estabelecimento, enquanto um deles avançava no discurso contra os “ladrões” que queriam continuar atrasando o Brasil, mas não iriam conseguir, pois com seu governo a tendência agora era melhorar.

Vários elementos transbordaram diante dos meus olhos de análise.

Um deles foi o mito da polarização!

Nós não estamos em um país polarizado! Estamos em um país onde esquerdistas estão sendo coagidos a esconder sua identidade política!

Não é comum que pessoas de esquerda se reúnam para agredir bolsonaristas nas ruas, ou em qualquer outro lugar. Mas os bolsonaristas estão avançando com um nível grande de violência no campo da individualidade, com sanha descabida de agressão.

Eu que estava apenas comprando flores, senti na pele o quanto uma mulher sozinha atiça o ânimo da misoginia do bolsonarista mediano, estudado e robotizado pela ideologia da bolha.

Talvez se estivesse em um ambiente com menos pessoas, não estivesse agora escrevendo estas linhas.

Ser de esquerda e ser mulher, me inclui em categorias postas na linha de frente do ataque bolsonarista premeditado, forjado no seio das políticas dominantes do meu próprio país, que agora se utiliza da máquina pública para financiar veneno ideológico contra nós.

Os robôs bolsonaristas não estão apenas nas redes sociais.

Dinheiro, ciência e tecnologia, escorrem aos borbotões na base da necropolítica de Jair Bolsonaro, no alimento tóxico de suas castas, bases e manutenção de territórios políticos; enquanto a vida real vai sendo esvaziada de possibilidades e respostas concretas às necessidades verdadeiramente humanas de um povo.

O que está sendo posto em prática no Brasil não é um projeto imbecil, é um projeto letal. De nós requer mais estudo, outras leituras e consequentemente, mais amadurecimento no trato com as hostes bolsonaristas, porque eles sabem muito bem o que querem fazer conosco.

Usemos a inteligência e a sabedoria, como escudos nesta hora de ofensiva.

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