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Quando o povo não merece seu amor

Observo este mundo perdido entre as noções antigas de realidade, e as coisas banais da pós-verdade via celular nas mãos. Olho o rosto do povo e nele não encontro noção do que foi feito com nossa história. Alheamento é a palavra!

Na minha iniciação religiosa eu ficava impressionada com as narrativas de grandes destruições que Deus promovia, em uma delas a justificativa apontava para a normalidade da vida mundana como o grande pecado; as pessoas casavam e faziam lautas festas, buscavam o gozo do corpo esquecidas do Criador.

Retirando a compreensão moralista do ser egóico que deseja ser visto, compreendido e  adorado, chego à metáfora da alienação das massas como causa das grandes destruições dos patrimônios políticos e sociais humanos. De fato, há um deus destruidor que fere a história do alheamento humano: o poder político.

Seria preciso perceber sua existência a determinar o alimento e a fome, a vida e a morte. O deus Poder não pode ser esquecido, mas apenas saber sobre sua existência é pouco!

É preciso compreender o poder político com seus alcances e possibilidades.

Prestar mais atenção nele. O que as pessoas podem fazer umas com as histórias das outras a partir dele.

Mas compreender ainda não é suficiente. Todos precisamos adorá-lo para saber lidar com sua força. É muito ofensivo aos nossos parâmetros de moral admitir adorar algo tão mundano, embora usurpá-lo seja objeto de adoração constante.

Fugimos para a normalidade da vida comum como um ato de descarrego.

Ser comum é uma ilusão que tem servido ao povo, que sente segurança entre as repetições. Ser mais que comum já representa alguma inexplicada ofensa.

Esse é o público que conversa mentalmente com Bolsonaro todos os dias. Que acredita nas palavras e frases de efeito: Urgente! Bomba! Agora vai! A casa caiu! O PT morreu!

No vocabulário dessa gente “cidadania e democracia” não ecoam, mas a autorização da morte vibra como um sino anunciando o amanhã.

Esses rostos de normais reprodutores das ideias fascistas, me assustam mais que as viagens siderais da ministra sado-masoquista. Porque eles não leem sobre as razões que levaram Jean Wyllys a renunciar um mandato, nem sensibilizam a retina com o sacrifício de Sabrina Campos. Ainda conseguem odiar Lula e Marielle como se grandes males lhes tivessem feito.

O dinheiro já diminuiu e o orçamento mensal está cobrindo um santo e descobrindo outro, a casa comum está mais pobre, e ele culpa o PT por seus problemas, mas não quer saber o significado da palavra milícia.

A pós-verdade cientificamente explicada perde feio diante das verdades criadas empiricamente nestes rincões de brasilidade perversa, que fala mal do outro, vigia a sexualidade do vizinho, espalha boato nas redes e mantém o voto analfabeto que consegue não renovar o país a cada pleito, nos condenando agora ao retorno democrático à perda da democracia.

O povo não é objeto de amor, é objeto de estudo. Assim falou o Poder.

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