Projeto de hospital vira terreno baldio e acumula lixo irregular

Terreno por detrás da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vira lixão e é alvo de disputa. Ali deveria virar um hospital materno-infantil.

No projeto anunciado em 2017, a Ufal cederia o terreno ao município de Maceió, que construiria unidade hospitalar. A nova unidade iria contar com dez leitos de UTI, dez leitos de UCI e alojamento com 21 leitos para realizar 263 partos por mês.

O projeto ficou só no papel.

Há seis anos o Conselho Universitário (Consuni) aprovou por unanimidade a cessão do terreno para a Prefeitura de Maceió.

Principal argumento: o hospital atenderia à falta de leitos das parturientes de baixo e médio risco.

O terreno está abandonado. Virou ponto de descarte ilegal de lixo e foco de doenças.

A coordenadora regional do MTST (Movimento de Trabalhadores Sem-Teto), Eliane Silva pede providências em relação a insalubridade que o local tem exposto os moradores da Ocupação Tereza de Benguela, no bairro Cidade Universitária.

Segundo Eliane o amontado de lixo tem propagado doenças e tornado ainda mais difícil a vida de quem luta por moradia.

 

 

“Diarréia, vômito, febre, dor de cabeça, dor nos ossos, apesar de terem tomado vacinas, mas tem muitos mosquitos à noite (…) isso é um abandono, um descaso total da parte do município de Maceió”, afirma.

Os descartes de lixo na região vêm sendo observado pelos moradores há um tempo. Eliane descreve que caçambas com entulho são constantemente descarregadas no terreno. Segundo ela, a Prefeitura já havia sido alertada sobre o caso. Não houve ação.

Preocupados com o amontado de lixo e o incômodo causado pelo mal cheiro, os moradores decidiram impedir por conta própria a entrada das caçambas no local, que padece pela proliferação de mosquitos e de roedores.

 

“Não governa para os pobres”

Reivindicando o direito à cidade, o MTST cobra diálogo com a Prefeitura e diz que Maceió não pode ser governada para uma minoria. A Ocupação Tereza de Benguela existe há três anos, mas a espera pela moradia é crônica e atinge quase 60 mil famílias que não tem moradia digna na capital. Os dados são do Movimento.

Ocupação Tereza de Benguela, no bairro Cidade Universitária em Maceió. Foto: Reprodução/Google Maps

“A prefeitura está transformando um verdadeiro lixão em cima dos sem-teto, que já estão há três anos esperando por moradia. Estão fazendo esse descaso com o pessoal que está morando debaixo de barracos de lona”, disse.

O Repórter Nordeste solicitou um posicionamento da Autarquia Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Limpeza Urbana (Alurb). A Alurb afirmou, em nota, que a área já havia sido contemplada com a ações de limpeza, mas o descarte irregular continua. Reiterou, também, que irá intensificar fiscalizações na área. (Veja a nota na íntegra no final do texto)

Explicou ainda que o terreno pertence à Universidade Federal de Alagoas (Ufal). De acordo com a Alurb, a instituição já havia sido notificada. O órgão sugeriu ainda a vedação da área, impedindo o descarte de lixo.

A reportagem procurou a Ufal, que não negou a existência do problema, mas explicou que dificuldades financeiras e o comportamento da própria comunidade prejudicam a manutenção da limpeza na área.

“A SUDES nos notificou para que fizéssemos o fechamento desse terreno para evitar que a área se torne um lixão. Contudo, estamos negociando com a Prefeitura que a própria SUDES continue fazendo essa limpeza até que a UFAL consiga fazer o isolamento da área, a instalação de algumas placas, câmeras de vídeo monitoramento e reativação do posto de vigilância que foi extinto após os cortes orçamentários que a UFAL sofreu nos últimos anos”, explicou Felipe da Rocha Paes, superintendente de Infraestrutura (Sinfra) da Ufal.

“Mas nós temos dificuldades com a rua que foi aberta clandestinamente no terreno da UFAL que dificulta bastante a execução desse serviço. Já foram feitas outras tentativas de fechamento desse muro, mas a comunidade do entorno sempre derruba porque para eles é conveniente manter essa rua para melhorar a mobilidade. Isso encarece o projeto porque teremos que fazer o fechamento com cerca em toda a extensão da rua até a Av. Frei Damião”, esclarece Paes.

Ele afirmou que a Universidade já iniciou o fechamento do muro da Avenida Paulo Holanda que estava derrubado. A Ufal prevê ainda para este ano o fechamento total de todo esse lado do muro.

Confira a nota na íntegra:

A Autarquia Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Limpeza Urbana (Alurb) informa que o terreno pertence à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que já foi notificada para manter a limpeza e fazer a vedação da área, a fim de evitar a prática irregular de descarte de resíduos.

A ALURB reitera que já realizou, por diversas vezes, a limpeza da área, mas o descarte irregular continua. Por isso, a fiscalização será intensificada na região, impedindo que os infratores despejem os resíduos no terreno.

Para fazer denúncias e solicitações, o cidadão deve ligar diretamente nos canais da Central de Monitoramento da Alurb, no número 0800 082 2600 ou pelo whatsapp (82) 98802-4834.

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