Possível recuperação total de Pedro deve ser lenta, dizem médicos

Tadeu Meniconi e Camila Neumam – G1

As primeiras palavras e os primeiros movimentos do cantor Pedro Leonardo podem ser o início da recuperação do coma, mas ainda não significam que ele tenha recuperado o raciocínio que tinha antes do acidente.

No caso dele, a tendência é que a recuperação seja lenta, já que ainda é preciso ver se a evolução do quadro levará a uma recuperação plena da saúde ou se vão restar sequelas.

Segundos os neurologistas consultados pelo G1, é necessário saber primeiro se houve lesões no cérebro e onde elas estão localizadas. O local e a intensidade desses ferimentos pode causar sequelas como perda de neurônios e da memória recente e dificuldade de leitura.

De forma geral, os especialistas explicam que, após um mês em coma, aumentam as chances de o paciente ficar em estado vegetativo, que é quando as funções vitais permanecem, mas a consciência é limitada. Como isso não aconteceu com Pedro, seu quadro clínico atual é visto como positivo por esses especialistas, mas ainda preliminar.

No dia 20 de abril, Pedro bateu o carro no município de Tupaciguara (MG), quando ia de Uberlândia (MG) para Goiânia após um show. Ele foi inicialmente levado ao Hospital Municipal de Itumbiara, em Goiás, onde passou por cirurgia para conter uma hemorragia abdominal, e foi transferido no mesmo dia para Goiânia. Seis dias depois, foi de avião para São Paulo para ser internado no Hospital Sírio-Libanês.

Desde o acidente, o cantor passou um mês em coma, que inicialmente, era induzido. Porém, os médicos tiraram os medicamentos no dia 29 de abril e ele continuou inconsciente até então, e só acordou neste domingo (20).

Segundo Ademir Baptista Silva, chefe da disciplina de neurologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, que não faz parte da equipe que trata Pedro Leonardo, o tempo que o cantor passou em coma pode ser um sinal de que ele tenha perdido neurônios.

As paradas cardíacas sofridas poucos dias após o acidente teriam sido mais danosas ao cérebro do que o inchaço causado pelo acidente em si, no ponto de vista do neurologista. Com o coração parado, pode ter faltado oxigênio no cérebro, e apenas cinco minutos nessa situação já seriam suficientes para matar neurônios.

Se essa perda de neurônios for confirmada, a recuperação de Pedro deve ser mais lenta, e ele pode ter sequelas. “A recuperação de células nervosas é muito complicada”, justificou Silva.

Opinião semelhante a da neurologista Sarah Teixeira Camargos, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que não faz parte da equipe que trata Pedro Leonardo. Segundo a especialista, as reações do cantor não excluem a possibilidade de haver sequelas.

“[Lembrar do nome do pai] é um exemplo de memória de longo prazo. Já é uma grande resposta, mas não dá para inferir outras coisas. Nestes casos pode haver sequela de leitura e perda de memória recente. Depende de onde foi a lesão que ele teve”, alerta Camargos.

Pacientes que tiveram danos cerebrais podem ainda perder os movimentos dos braços e das pernas e, se a lesão atingir o bulbo cerebral, responsável pela regulação da frequência cardíaca e da respiração, o paciente terá de viver respirando por aparelhos, explica Camargos. Isto é, as sequelas aparecem de acordo com as áreas do cérebro que foram lesionadas.
De toda forma, mesmo se houver recuperação plena, o processo é lento, segundo Silva. Existem três funções principais do cérebro que serão analisadas: a fala, os movimentos e a parte cognitiva, que engloba compreensão e raciocínio.

“A fala volta, mas isso não significa consciência plena”, explicou Silva. Há exercícios específicos para estimular cada uma das funções, e a recuperação leva cerca de seis meses. “Se a recuperação passar de um ano, é sinal de que provavelmente haverá sequela”, completou o neurologista, que definiu sequela como uma alteração permanente.

Já para Camargos, o fato de Pedro ser jovem e de apresentar boa saúde antes do acidente, além de ter tido tratamento médico qualificado, contou a favor para ele sair do coma e pode ser decisivo na sua recuperação.

“Uma coisa é coma prolongado em um paciente de 20 anos, outra é um de 50, 70 anos. O organismo jovem tolera mais estresse do que o idoso”, afirma.

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