Por que os psicólogos lavaram as mãos na era Bolsonaro?

Psicólogos alagoanos aprenderam pouco com os quatro anos de Governo Bolsonaro. Além de indignação velada e em silêncio para não escandalizar o estado mais bolsonarista do Nordeste, nada consta no quesito organização e movimento sindical de psicólogos.

Como se não bastasse o caos na saúde gerado pela pandemia e pela desorientação estratégica de setores importantes da assistência social, os caminhos controversos do silêncio alagoano calou de vez os poucos psicólogos que ousavam se posicionar. Psicólogos, aparentemente trancafiados em seus consultórios, esquecem de tudo quando andam pelas ruas dos bairros da capital Maceió.

Eles evadem das contradições da cidade, da vida que acontece nas lagoas e mares deste território anfíbio para dar 5 dicas de como ter sucesso na vida no TikTok.

Em Alagoas, então, é como se nada acontecesse. O social não existe, exceto para a construção de teses sobre o sujeito, o indivíduo e a ansiedade nos campi de Psicologia. Aqui a estratégia é mais horripilante que uma Psicologia fofinha, é de uma Psicologia que escolheu abrir mão da fala para fugir de seus próprios conflitos.

Uns levantam a bandeira da crise de práxis, outros cansaram as mãos e esqueceram as bandeiras para choramingar vicejos empreendedores nas redes sociais. Social bom é aquele fácil de fingir que não existe.

De crise em crise os psicólogos abraçam narrativas do fim de história ou tecem considerações sobre um bojo de conhecimentos sobre o homem com um fim em si mesmo. O mínimo pingo de crítica da realidade afasta até os mais ousados para não aparecer de maneira no negativa no marketing digital. O critério do negócio é a economia da imagem.

Após a luta histórica pelo reconhecimento teórico-prático de uma ciência tão recente e tão maravilhosa como a Psicologia, é inegavelmente contraditório não vociferar contra o cotidiano de misérias que afeta o sujeito alagoano, que faz de sua alagoanidade o que dá para não cair na apatia gerada pelo status de estado mais pobre do Brasil.

O brasileiro sofre muito, mas o alagoano parece padecer de males que o silêncio enterra ecos longínquos de história, de enfrentamentos e lutas ferrenhas contra as oligarquias. Psicólogo calado pode ser bom para alguns, mas para o povo alagoano não.

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