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Por que os cemitérios clandestinos são descobertos e ‘somem’ nas investigações da PC?

Não se sabe o porquê, mas as investigações sobre cemitérios clandestinos em Alagoas parecem não avançar na Polícia Civil. De tempos em tempos, PC e imprensa local descobrem alguns deles; perícias são realizadas nestes lugares mas o o assunto some, corpos não tiveram uma história, um porquê e viram um passado oportunamente esquecido.

Como se a morte, mesmo após mostrar a nossa condição de finitude na carne, exigisse essa cautela. Para a a proteção da própria pele. “A noite é da morte” (Guimarães Rosa).

Em meu livro, “Alagoas, poder e sangue (1817-1847)” mostro um trecho de uma história referente a um cemitério clandestino que tinha dono: o capitão João Nepomuceno de Moraes, liderança política do interior alagoano.

Neste cemitério eram enterrados os desafetos do capitão. E não eram poucos.

O padre José Caetano de Moraes- parente do capitão- sabia da existência do cemitério e é provável que também enterrasse os seus mortos à bala nestas mesmas terras.

As autoridades alagoanas sabiam do cemitério, mas sequer ousavam desenterrar aqueles mortos nem desafiar o poder temporal (do capitão) e celestial (o do padre).

Mortos matados porque não eram homens de bem, mas cabra-safados merecendo encontrar a dita-cuja antes do prazo determinado por Deus. Ou pelo diabo.

Portanto, não eram gente.

Somente uma sociedade tão complexa como a brasileira- e tão psicologicamente arraigada ao passado colonial- explica que 2 homens, um deles padre, ambos pistoleiros, das bandas de Palmeira dos Índios e Atalaia, protegessem um ministro do STJ, o José Tavares Bastos- representante da Justiça dos homens . Um ministro- mais incrível ainda!!- pai de Aureliano Cândido Tavares Bastos, não apenas patrono da Assembleia Legislativa, mas um dos estudiosos do liberalismo brasileiro.

Como se vê, justificam-se os medos dos mortos. Não pelo espírito que a carne liberta. E sim por quem mandava nas mortes dos outros.

O cemitério clandestino do padre e do capitão sumiu no tempo histórico alagoano. Como somem os de hoje, “(…) o cheiro da morte velha” (Guimarães Rosa).

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