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Por que o deputado-coronel que quebrou a placa denunciando genocídio negro só queria matar o chargista?

Se um jornalista justifica a truculência da era Jair Bolsonaro e agride um entrevistado, num programa ao vivo, e nem é demitido nem pede desculpas e ainda é homenageado pela ala putrefacta das redes sociais, só nos resta o alívio de saber que, nas mãos de Augusto Nunes, não havia uma arma para matar, ali mesmo, Glenn Greenwald.

Se o deputado federal do PSL, legítimo representante do bolsonarismo, o coronel Tadeu, quebrou uma placa com uma charge de Latuff representante o genocídio negro pelas mãos das polícias brasileiras, é porque ele queria mesmo era matar o chargista, defender a polícia a qualquer custo, mostrando que as instituições que deveriam estar em defesa da democracia- como o Ministério Público- permanecem em silêncio conivente, quando o barulho em outras épocas parecia ser uma regra. Hoje, demonstra-se que este barulho era seletivo.

Quando, em uma rede social, um dos soldados de Bolsonaro dispara a imagem de uma mulata, de costas, com pouca roupa e exibindo a larga bunda, mostrando onde será a festa do dia da Consciência Negra, é porque o convite é para o estupro coletivo da “novinha”. E, ela por ser negra, vale menos que as mulatas dos engenhos, estupradas pelos senhores brancos ou seus filhos escravizados pelos instintos mais primários do sexo desvairado.

É preciso que as palavras, ao se referirem aos defensores do “custe o que custar” de Bolsonaro, sejam ditas. Há uma alma profundamente anti-social, um estímulo ao extermínio dos diferentes, a tara pelo outro ser um simples objeto, que pode ser descartado, massacrado, enterrado por servir menos. Porque apesar das pessoas serem legalmente iguais perante ás leis, os bolsonaristas- estimulados pelo seu chefe- elegem os piores e o destino para eles.

Cientistas deixam de assinar o próprio nome em um artigo científico publicado numa revista internacional porque ele fala da Amazônia e as informações vão de encontro às exigências de Bolsonaro.

A Constituição define a livre manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Mas, o anonimato ajuda, neste caso, a preservar a vida destes cientistas e os do entorno deles.

Porque eles sabem que Bolsonaro e os bolsonaristas têm a capacidade de matar. Usaram o gesto de “arminha” na campanha; instrumentalizam este gesto no dia a dia do Brasil: quem tiver um adesivo de Lula na camisa ou no carro pode ser morto ou ferido ou ver o bem destruído. Se gritar Lula Livre nas ruas, corre o mesmo risco. Se defender, nas redes sociais, o uso da ciência para libertar o homem da escravidão do fanatismo, vira alvo da campanha de ódio dos que têm “Deus” no coração.

Ódio, aliás, é a palavra do momento. Bolsonaro e os bolsonaristas intoxicam até as redes sociais. A campanha é para que as pessoas desistam de suas contas no Facebook, no Instagram e fiquem conformadas, ensimesmadas, em defesa única de suas famílias. Para que as hordas presidenciais não passem por cima dos corpos dos seus filhos e os violem como objetos sem valor.

A campanha pela democracia é diária. Está nas redes, nas ruas, no dia a dia da cidadania. Bolsonaro e seus cavaleiros da morte não são o cão do inferno, apesar de terem o poder nas mãos. Porém, estão longe da maioria. Que os nossos silêncios não sejam, sempre, uma interpretação para atos de conivência.

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