O questionamento é potente: por qual razão a esquerda brasileira se tornou uma máquina de cancelar pessoas nas redes sociais?
As respostas podem vir rápidas, fermentadas ao sabor de ódio, ou demoradas, sob a sapiência de quem compreende que retaliações contínuas e contumazes não indicam saúde, estejam em qual espectro político for.
Como não se trata de um artigo científico com rigores metodológicos, mas de um trabalho opinativo, embora analítico e com fundamento em estudos e leituras contemporâneas, ousamos refletir sobre a influência do liberalismo progressista neste comportamento endêmico.
A esquerda comportamental, representativa de segmentos ditos minorias ou grupos identitários, fez um afastamento radical da matriz marxista, que orientava as lutas sociais com vistas à superação das barreiras de classe, como eixo político mor; embora já concentrasse as representações segmentadas como fortalecedoras das organizações políticas com reflexo nas lutas partidárias.
O liberalismo progressista é conhecido como um movimento importado dos Estados Unidos para fatiar os grupos organizados, focando nos interesses imediatos dos segmentos, com jargões baseados em empreendedorismo, empoderamento e conquistas restritas às identidades expostas. Como resultado de um imediatismo financeiro que logrou sucesso em universidades, linhas editoriais e setores do mercado vinculados à cor, raça, orientação sexual e similares, logo foi amealhado como a “nova face” da esquerda, abandonando as formações de classe, para incentivar cada vez mais as lutas por territórios de sucesso de maneira fragmentada.
Do sucesso desta narrativa, brotou o avanço raivoso desta esquerda contra qualquer manifestação de ideias divergentes, organizando campanhas de cancelamento e ocupando espaço por imposição do medo que o outro passou a ter de ser cancelado.
Os gritos e palavras de ordem desta hora não apontam mais para a exploração de classe, baseada no conhecimento da mais-valia e explicações estruturais; o que se ouve agora são acusações individualizadas, gerando comoções e justificando o ódio pelo ódio como bandeira de luta.
Alguns se sentem intimidados, e outros invasivos, para no final das contas o liberalismo econômico que é o pai de todos os caos sair ileso, financiando campanhas fascistas e articulando golpes, enquanto a massa briga entre si.
Neste resumo moram diversas bolhas.
O mundo digital manobra as ações.
Os donos do poder seguem cada vez mais poderosos.









