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Os bastidores da guerra surda entre a Casal e o Governo

A briga entre o presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), Hugo Wanderley, e o presidente da Casal, Clécio Falcão, acontece em meio ao futuro da companhia, cujos serviços estão sendo desestatizados.

O Governo pretende levar adiante este ano a segunda parte do leilão destes serviços.

A primeira parte aconteceu em 30 de setembro do ano passado. Envolveu a região metropolitana e surpreendentemente sem o protesto dos prefeitos.

Por que?

O caso

Hugo Wanderley pediu a demissão de Clécio Falcão.

Por que?

Hugo diz que falta sensibilidade e existe inércia de Clécio no comando da Casal.

Motivo alegado: há uma crise de abastecimento na adutora leiteira prejudicando cidades como Cacimbinhas (onde Hugo é prefeito), Jaramataia, Senador Rui Palmeira, Major Isidoro e Dois Riachos, além de outras.

A adutora leiteira é o Sistema Coletivo da Bacia Leiteira, “o maior sistema de abastecimento em operação pela empresa, atendendo a 18 cidades, algumas delas distantes quase 100 quilômetros do manancial, que é o Rio São Francisco, em Pão de Açúcar. É o caso, por exemplo, de Cacimbinhas, de um lado, e de Ouro Branco, do outro”, em texto da companhia.

A Casal, em resposta, diz que parte desta culpa é dos prefeitos e do presidente da AMA.

Eis os motivos:

1) O Governo de Alagoas, via convênio com o Ministério do Desenvolvimento Regional, contratou, em 2014, obras de revitalização e modernização de toda a adutora, “incluindo uma estação de tratamento, várias adutoras, e como última etapa a substituição dos equipamentos da captação e das estações elevatórias”. Tudo se arrasta até hoje, sem data para conclusão;

2) Porém, existem problemas como furto de água, que abastece sítios, chácaras, fazendas e caminhões-pipa clandestinos;

3) Prefeituras também devem e não pagam a água dos órgãos públicos e a Casal foi para a Justiça buscar o dinheiro. Muitas destas dívidas são antigas;

4) Há ainda quedas de energia e oscilação de tensão elétrica, prejudicando o sistema;

5) Todos estes problemas são conhecidos pelo secretário de Infraestrutura, Maurício Quintella. A Secretaria é a gestora desta adutora;

6) Durante dias a Casal tentou explicar tudo isso a Hugo Wanderley. Ele não atendeu às ligações nem retornou.

Coisas estranhas

Por que Hugo Wanderley pede a demissão de Clécio Falcão e não de Maurício Quintella, gestor da adutora?

Outra coisa: a obra é feita em parceria com o Governo Bolsonaro. Por que Hugo não atacou o presidente da República?

E veja, caro leitor, a estranheza das estranhezas: a obra da adutora se arrasta desde 2014.

E de 2014 a 2021 Quintella foi deputado federal, ministro dos Transportes na era Michel Temer e hoje secretário de Infraestrutura.

Antes de Quintella na Secretaria? Era Fernando Melro, atual chefe gabinete do secretário Quintella.

Antes de Fernando Melro quem era o secretário de Infraestrutura? Humberto Carvalho, hoje vice na Casal.

Por que nenhum destes foi citado pelo presidente da AMA? Afinal todos eles passaram pela Secretaria nos preparativos da obra da adutora, na assinatura do contrato e na longa execução da obra (lembrando que ela se arrasta desde 2014).

Hugo Wanderley sabe de tudo isso.

Também sabe da dívida das prefeituras com a Casal.

E daí?

Daí que voltamos ao início desta postagem.

Existe uma guerra surda nos bastidores com a atual direção da Casal.

Eis os motivos:

– Quintella defende o leilão de serviços da estatal; diretores da companhia são contra;

– A Casal vem registrando lucros em seus balanços há 5 anos sucessivos e isso atrapalha o discurso do Governo de Alagoas na defesa do leilão.

Ora, no discurso popular, o Estado abre mão de um serviço público quando ele registra prejuízos ou ele mesmo não consegue pagar a execução destes serviços. Coisa que não se aplica à Casal: ela dá lucro e o dinheiro é revertido para obras de abastecimento de água;

– O silêncio dos prefeitos a respeito do leilão de serviços da Casal é um caso a ser estudado. Há prefeituras que estão abrindo mão de sistemas próprios de abastecimento e independentes da Casal para aderirem a um leilão que deve encarecer e muito o valor da água cobrada ao povo.

Quem ganha com isso?

Só não é o povo.

Matemática estranha ou intencional?

SOBRE O AUTOR

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