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O que é a prática assassina gourmet?

Para minhas análises a sociedade é um imã, atraindo infinitamente a curiosidade e o desejo, na certeza de que jamais abarcaremos todos os ângulos dessa multifacetada criação humana, por mais que tentemos.

Dalmo Dallari nos diz que “a vida em sociedade traz evidentes benefícios ao homem mas, por outro lado, favorece a criação de uma série de limitações que, em certos momentos e em determinados lugares, são de tal modo numerosos e frequentes que chegam a afetar seriamente a própria liberdade humana”. Como não perceber esse viés ativo na sociedade juridicamente controlada e controladora?

Esse império das prerrogativas que atrai tantos vilões endinheirados, como instrumento de manipulação e punição! Como entender a viela que sobra à cidadania, quando não se tem dinheiro para comprar a própria defesa mas precisa continuar acreditando que é um cidadão brasileiro? Estamos na sociedade interpretativa.

O burilamento das práticas e relações sociais em nosso circuito não rompeu com o arcaísmo intencional do domínio. Antes, refinando tais práticas o vilão acoberta-se com os ares da civilidade, pois é a própria lei que o legitima, haja vista, ser possuidor de suntuosos escritórios jurídicos, debruçando inteligências e retórica sobre as causas encomendadas.

Parece até que uma vaga impressão determinista já prediz o último capítulo da história. Mata o herói deixando-lhe viver, arrancando-lhe a voz e a vontade de continuar. Barbarismo digno do século XXI?

Políticos e autoridades alagoanas descobriram esse viés de poder. Cidadão, trabalhador, povo pobre dessa terra, sabem os efeitos danosos que podem levar à concretude da prática assassina gourmet. Quem estará destoando esse discurso?

Mais uma vez nos vem Dallari, dizendo que ” a consequência mais grave da crença no determinismo social é a voluntária submissão a leis consideradas inexoráveis, com a consequente automatização da vida social e a descrença em mudanças qualitativas, pois se tudo está predeterminado, é melhor não fazer qualquer esforço que já se sabe inútil”. E assim seguimos, acreditando que a sociedade é mesmo esse organismo durkheiminiano, e o rio só corre para o mar.

Contudo, não haveremos de acomodar as energias da vida aos discursos de ocasião, pois estes puxam a ideia de que vale a pena continuar pagando caro para manter os organismos sociais, supostos promotores e defensores dos direitos, entre eles, o de existir plenamente, como o maior. Haveremos de detectar as anomalias, rompendo com as orientações de Durkheim, considerando-as parte da engrenagem de poder que tenta parecer perfeita, deixando à margem a maioria exangue de tentativas vãs no usufruto dos direitos propalados.

A desigualdade de acessos é uma anomalia imperdoável! Mais uma vez concordamos com Dallari, ao afirmar que “quando uma sociedade está organizada de tal modo que só promove o bem de uma parte de seus integrantes, é sinal de que ela está mal organizada e afastada dos objetivos que justificam sua existência”.

Para os pseudo-reis desta sesmaria alagoana, vamos encerrando com Eduardo Galeano, afirmando que “embora sejam muito pobres, não se rebaixam em produzir com as suas mãos outra coisa além de glórias. Faz muito tempo que essas mãos se esqueceram de trabalhar, como as asas da galinha se esqueceram de voar”. Assim tem sido.

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