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O que disse a ONU Mulheres em Maceió

A analista de programas da ONU Mulheres (Un women), Ana Claudia Pereira esteve em Maceió, AL, neste início de julho, como participante do P 20.  Entre os importantes dados que apresentou na mesa que debatia justiça climática com perspectiva de gênero, está a afirmativa de que mais de duzentos e trinta e seis milhões de mulheres e meninas sofrerão com insegurança alimentar, em contraste com cento e trinta e um milhões de homens e meninos. Ou seja, o impacto sobre o gênero feminino será dobrado.

Segundo a representante da ONU, as alterações climáticas e a perda de biodiversidade tem impactos intensos, principalmente nas mulheres e meninas que vivem em regiões rurais pobres, pela maior dependência dos recursos naturais para a obtenção de alimentos, água e combustível. Tal situação tende a aumentar a carga de trabalho não remunerado de mulheres e meninas, tanto no âmbito doméstico quanto comunitário.

Embora as mulheres sejam as guardiãs das práticas sustentáveis dos seus territórios, Ana Claudia Pereira reconhece que elas seguem excluídas dos espaços de negociações relativos ao clima e direitos humanos, além de lidarem com desafios pontuais como financiamento reduzido e restrito e ameaças à segurança física.

Na defesa de uma economia baseada no cuidado e na regeneração, a ONU apresentou uma proposta em quatro dimensões: Reconhecimento, redistribuição, representação e reparações.

  1. Criar um mundo no qual os direitos, o trabalho e o conhecimento das mulheres recebam o devido valor;
  2. Que os recursos e as oportunidades econômicas sejam compartilhadas de forma equitativa;
  3. Que as decisões coletivas sejam tomadas com a inclusão de todas as vozes, consideradas em sua diversidade;
  4. Reconhecer as injustiças históricas e atuar responsavelmente perante as gerações passadas e futuras.

A fala conjugada ao momento crítico causado pelos impactos climáticos e também políticos, apesar de soar com beleza, traduz aos ouvidos das mulheres algo que lhes pareça viável? Traz algum tipo de perspectiva? Afinal o que faz a ONU Mulheres?

Ana explica: Apoiar os Estados-membros (que hoje são 193) na promoção da igualdade de gênero e no cumprimento dos compromissos assinados por estes países, com relação ao tema. No Brasil o trabalho é feito com a sociedade civil, governo, academia e setor privado, assessorando tecnicamente, sensibilizando, defendendo medidas que possam promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Sendo provocada sobre o cenário de avanço dos extremismos misóginos deste tempo, respondeu que há no mundo um processo de disputa pelo retrocesso dos direitos das mulheres, embora do outro lado, também sigam lutando e demandando, movimentos feministas.

Existe uma reação a muitas conquistas (das mulheres) que foram alcançadas e formalizadas em muitas partes do mundo. Mas ainda assim, é importante lembrar que muitos compromissos assumidos pelos Estados-membros continuam vigentes, pois assinaram tratados que têm poder de lei sobre a promoção da igualdade entre homens e mulheres, e precisam cumprir as normas.

É uma questão de intensificar esforços e visibilizar os ataques aos direitos das mulheres, pois eles prejudicam toda a sociedade, não apenas a elas. Vão na contramão do desenvolvimento. Por isso a luta é contínua, até que todos os direitos sejam uma realidade na vida de todas as mulheres, finalizou.

Apesar do importante trabalho da ONU, pois sabemos que nenhuma forma de força pode ser desvalorizada ou menosprezada, poucas formas de proteção chegam perto da realidade das mulheres e meninas, que estão sendo cada vez mais alvejadas por políticas arcaicas, montadas pela extrema direita que se manifesta a ocupar territórios de poder, muitas vez através de mulheres parlamentares, inseridas no poder judiciário, etc.

É um tempo diferenciado no fechamento do cerco aos direitos humanos.

O acesso ao conhecimento e possibilidades de engajamento político-social é uma maneira possível de fortalecer as lutas de gênero no Brasil e no mundo.

 

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