Há um eco de coisas antigas nos ares do Brasil. Sonhos de relhos estalando sobre costas, tiros estilhaçando vidros de ônibus, ribombando no acampamento mais democrático do país e ferindo inocentes, e mesmo assim diminuídos e silenciados pela mídia; gente branca e de face rosada se juntando estrategicamente para demonstrar força, a brutalidade de quem tem apenas convicções, e nada pode provar a não ser o quanto consegue o apadrinhamento dos poderes para acobertar violências cometidas à luz do sol, pois aqueles estão tomados por representantes da dominação econômica e cultural de um país, que está estruturado sobre a exclusão e a truculência, desde a colonização.
Sim, nós temos a obrigação de contextualizar, pois o que estamos assistindo em nosso país não é o combate à corrupção nem tampouco a justiça sendo feita. Estamos vivendo uma história que mistura interesses econômicos macros e mesquinharias de classe, raça e outras leviandades capazes de diminuir o senso de honradez do nosso povo. Há brutalidade todos os dias! Há afronta aos direitos sendo erguida a qualquer momento.
A forma como a polícia brasileira, desde militares, civis e federais tem mostrado afinidade com a violência contra homens e mulheres portadores de direitos e militantes de causas sociais, deveria envergonhar corporações e a todos nós, que afirmamos ter consciência. Mas não ocorre indignação suficiente para coibir tais práticas. e um orgulho mal dissimulado se mostra nas expressões faciais da família dita de bem.
Um delegado federal invade o território no qual o povo assume importante representação da parcela de brasileiros que está afetada por ver Lula um preso político, e usa a força abertamente para quebrar um equipamento de som. Provoca os ânimos dos que lá se encontram, mas é acobertado por colegas que também são policiais, e depois mostra o rosto dizendo que a filha precisava dormir.
Um país inteiro precisando acordar para o que está acontecendo com as nossas leis, com o uso do nosso território social, histórico, contando com a resistência de abnegados militantes que fazem inúmeros sacrifícios para materializar o gesto de dar “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” a um filho especial desta pátria que foi injustamente confinado em uma cela, em uma solitária, e um representante da segurança em caráter nacional alega que a filha dele precisa dormir, e quebra um objeto de valor material e simbólico, para calar os que lutam, denunciam e protestam, enquanto possibilitam interação auditiva com Lula.
O teólogo Leonardo Boff após a cena humilhante de ser proibido de visitar Lula, ao finalmente conseguir chegar até ele e dar o seu testemunho solidário de adesão à causa traz para o acampamento e para todo Brasil a satisfação do ex-presidente ao ouvir o povo irmão, na fidelidade dos cumprimentos diários, lhe levando alento e promovendo resistência também.
No dia seguinte a justiça proíbe o uso de equipamentos de som no acampamento.
O prefeito de Curitiba desmarca uma reunião que tinha como pauta melhorar a estrutura, afinal, o Estado não pode se eximir do cidadão.
O governador do Paraná diminuiu o efetivo de segurança nos arredores, deixando as pessoas em maior vulnerabilidade, haja vista a larga impunidade que se revelou diante dos ataques sofridos.
Não há limite para agredir, silenciar e cercear a liberdade no chão do Brasil.
As causas são discutidas nas redes: a economia, o petróleo, as eleições, as políticas antigas, o domínio e a subjugação da nação, encarcerando o líder e punindo seus apoiadores.
A resistência do povo brasileiro não vai diminuir, mas esse clima de “tudo pode” incentivado pelos poderes e pela mídia precisa nos despertar para a necessidade de fortalecer o cordão e a pressão sobre as instituições responsáveis pelo funcionamento e aplicabilidade das leis no Brasil.
O judiciário precisa ser cada vez mais exposto. Se antes era um pseudo-olimpo, hoje virou meme. Mas é pouco.
Todas as ações arbitrárias e truculentas dos juízes brasileiros contra Lula e a parcela de Brasil que está em Curitiba, devem ser sentidas por todos nós, e ações conjuntas e uníssonas precisam despontar com força em cada chão onde esteja um de nós, que do coração para a garganta carrega a força do grito “Lula Livre”!