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Não tema o caos e discuta política

A estratégia discursiva do golpe foi fomentar o sentimento caótico, a descrença e a culpabilização de um partido e de uma linha ideológica, para girar a manivela coercitiva, manipulando a sociedade brasileira e suas opiniões assentadas em variáveis que se interligam pelos vieses da desinformação e do moralismo.

A parca memória do brasileiro, com relação ao passado político contribuiu para o sucesso da estratégia midiática golpista, que por sua vez, encontrou eco entre formadores de opinião, como líderes religiosos e articulistas.

Neste aparente buraco negro, a intencionalidade da classe dominante se mostrou conectada com pequenos satélites que alimentam o próprio sucesso econômico na venda de ilusões aos que se sentem perdidos ou perdedores. O cenário forjado pelos quinhentos anos de colonização, foi profícuo em gerar esse sentimento, enraizado nas políticas de exclusão que mantiveram a pobreza como maldição e alimento da atuação política canalha, que por sua vez, movimenta o ciclo de criação e recriação das piores relações em caráter econômico e cultural.

Nosso país não é um pedaço de mundo a flutuar, não estamos sem solução e a ideia de crise é ressuscitada intencionalmente todas as vezes que uma força contrária reanima adeptos para convencer que as derrocadas são necessárias, como remédios amargos.

Diante desta constatação, o cidadão precisa salvar a subjetividade e não desistir dos projetos amplos, de caráter coletivo e educativo com vistas a novos convívios.

A família é a decantada “base de tudo” que o senso comum propaga, mas antes de ser isso, é a reunião de pessoas autônomas, com direitos individuais de gostos e escolhas, e não será oprimindo ou nos tornando adeptos de planejamentos sociais baseados na opressão que garantiremos felicidade.

Portanto, desgarrar dessa esperança de controle e dominação para a segurança da família, é exercício nobre de autonomia e amor incondicional; que por outro lado, retiraria boa parte da força de coerção dos líderes falaciosos, que em nome de soluções aos dramas humanos ontológicos, se transformam em negociadores de votos alheios e praticam diariamente o ilusionismo que arrasta multidões.

A flexibilidade de pensamento pode nos abrir aos diálogos promotores de raciocínio crítico, arando nossos campos pessoais para o recebimento de novas sementes, mais diversas, altruístas e geradoras de frutos raros, como a harmonia consigo e com os outros; não através do descaso e da indiferença, mas do respeito verdadeiro ao que ele gosta, ou demonstra ser.

Obviamente que não falamos na perspectiva da legitimação do individualismo, mas da não aceitação dos moralismos que nos induzem a crer que somos melhores que aqueles considerados “desgarrados”, fora dos padrões da normalidade instituída.

O cenário contemporâneo nos permite fazer este passeio entre posicionamentos políticos ortodoxos e até violentos e odientos, e relações familiares, concepções de bem e mal e até mesmo salvação espiritual. Pois uma mistura intencional foi elaborada, para que tudo o que de fato importa no final, como gerador de resultados – no caso a manutenção e o controle do poder político e econômico – perca complemente a influência da razão.

Assim, o fio da identidade e capacidade de manter o foco discursivo na plataforma do avanço qualitativo da vida societária, é nosso desafio e nosso prazer, de agora.

Somos aqueles e aquelas que prezando pela vida em manifestações concretas de felicidades, não admitiremos que a liberdade seja ferida de morte, e desenvolveremos a capacidade de ressuscitar poesias nos desertos mais hostis das relações, porque  sem a brisa das felizes crenças e bem sucedidas experiências, o pseudo-caos pode de fato iludir o todo.

Lembremos, que hoje, apenas uma parte dos nossos conterrâneos estão sob o efeito da hipnose que o golpe gerou, e a maior parte dos brasileiros não desistiu de acreditar que dias melhores estão por vir.

Para nós, poesia e porvir!

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