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Mitos e espíritos ninam a evolução

Ao voltar os olhos para a infância eu reencontro por lá os mitos antigos fazedores de subjetividades rígidas e nobres, pois quem tinha voz forte na mata era a Cumade Fulôzinha e na cidade Seu Tranca Rua dava as ordens.

Nas noites de lua cheia corria Lobisomem e quando o céu escurecia não convinha andar sozinha.

Eram medos plantados na escuridão da ontologia, para clarear com a aurora na reza insistente e repetida do Rosário de Nossa Senhora.

Dez Pai Nossos e Dez Ave Marias, no mínimo, por dia. Fórmulas simplórias dentro da chama de uma vela luzidia.

Mitologia religiosa da minha raiz escrupulosa!

Mito forte, com poder de dissolver mandinga das gentes invejosas!

Estilo de crença repassado pelas benzedeiras que tiravam o mau olhado.

Tudo era resolvido no espaço delimitado de um viver à margem dos grandes pecados.

Mitos milagreiros, amados e cultuados; moradores de oratórios perfumados.

Não incentivavam antropofagias, nem arrebentavam as soleiras de outras tantas crenças. O senso religioso misturado, acalmava cada lar com o seu naco próprio de bem estar.

Assim cresci para compreender que o maior milagre nesta terra ainda é viver.

Os encantos da emoção são buscas infantis, recantos de salvação com memórias esparsas do nosso verdadeiro tamanho; grandes, quando libertadores, e minúsculos quando opressores.

Todos os anjos desvelados nos oferecem cuidados porque sabem as escarpas que as ilusões mentais criaram e sorriem das nossas buscas, sem negar amparo.

O que nos aguarda ao descortinar o véu da maturidade é um banquete de responsabilidades proteladas; feitos incompletos e construções inacabadas.

A terra é plena de paciência, é uma casa-mãe cósmica, vibrando em transcendência.

Nossos mitos agregam tudo o que nos falta em resolução, compreensão, libertação, para a assunção das energias plenas de renovação.

Somos nós, com medo da noite, quando deveríamos temer o uso do açoite!

Com medo do sexo, quando o que nos ameaça é a falta de nexo, nas nossas decisões.

Somos nós, esse incrível e fantástico resultado dos processos fiéis da evolução.

Entre a tristeza e a esperança analítica, vou cumprindo a minha parte combatendo os mitos da política.

O terreno é vasto, embora acidentado. Mas dá para fazer cultivos pequenos e seguros, dessa livre mentalidade. Porque as vozes do amor se traduzem em liberdade.

Quando não precisarmos de mitos, será outra a realidade. Enquanto eles estiverem em nós, que nos fechem os corpos e livrem as mentes da maldade.

SOBRE O AUTOR

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