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Ana Cláudia Laurindo: Meu filho não virou árvore!

Reflito criticamente sobre o programa desenvolvido pela Universidade Federal de Alagoas, na luta contra a violência, questionando qual efeito estrutural e conjuntural o mesmo pode gerar.

Como vítima dessa mesma violência que devassa tantos lares alagoanos, na perda esdrúxula de meu filho Alexystaine, de apenas 16 anos, em condições mal esclarecidas pela polícia e pela justiça, sinto-me no direito de relatar o quanto resumido é o alcance desse programa.

Gerar relatos pessoais sobre cada drama, focando apenas aspectos relacionais e sentimentais, para transformar o nome de cada vítima em uma árvore plantada num campus universitário, parece até poético.

Considero o aspecto simbólico do ato, mas não me contento.

Acredito que a universidade tem condições de participar mais efetivamente na mudança do quadro local, que na conjugação da violência estrutural com analfabetismo e despolitização, todos os dias infringe o direito de viver de dezenas de jovens e adultos, incluindo até crianças.

Principalmente o núcleo de Ciências Sociais, que possui todos os antídotos contra a ingenuidade cultural que caracteriza nossa maioria populacional.

E reafirmo: sentimento, por si, já existe em demasia. Chame-o sofrimento intenso!

Nossas famílias clamam por parceiros de outra modalidade de luta; a qual a universidade tem fechado os olhos e tapado os ouvidos. Queremos lutar por autonomia política de nosso povo, inclusive familiares de vítimas; que se a situação prossegue sem alterar, seremos a maioria dos alagoanos em breves dias.

Com respeito imenso aos que atenderam ao chamado para louvar a memória digna dos amados, continuo em crítica ao direcionamento amistoso dado à situação tão grave e que, por si mesma, é geradora de tensão.

Repudiando atos que agradam a gregos e troianos, lembro Jesus, dizendo que haveríamos de ser quentes ou frios, pois que os mornos, seriam vomitados.

3 respostas

  1. Concordo com você. Isso parece normal e bom somente para quem não sente a perda dolorosa, resultado de políticas inadequadas.

  2. Concordo com você Ana . Mais uma das estratégias de manipulação das massas, agora utilizando o sentimental como forma de suprir a falta de uma política de segurança estatal.Não é uma simples árvore, com seu perfume exalado no orvalho que será o bálsamo da dor que é perder um ente querido, nem tão pouco ,o fim da nossa busca por justiça!

  3. A discussão começa por aí, parabéns pela lucidez do desabafo, apesar da dor, Ana Cláudia Laurindo!

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