Estávamos em Florianópolis naquele 08 de janeiro. Precisamente passeávamos no Parque de Coqueiros quando o zumbido de veículos imponentes tomou conta das ruas e rostos sorridentes embrulhados nas cores verde e amarelo pareciam rasgar o ar.
Aqueles sorrisos não eram exatamente o que a palavra diz. Havia um esgar naquelas bocas, naqueles olhares prenhes de violência contra o resultado das urnas, era o ódio ao presidente Lula que estava exposto naquela enorme carreata/motociata.
Logo pressentimos que alguma coisa ruim para o Brasil tinha acontecido, pelo tamanho da euforia que os raivosos bolsonaristas naquele instante experimentavam. E vestimos os nossos próprios rostos de paisagem, tentando não mostrar o que sentíamos, pois estávamos expostos e de todas as maneiras vulneráveis àquela turba constituída de fanáticos bem equipados.
Apressamos o passo na direção de casa. Largando o lazer e tomando o aparelho celular, começamos a tomar ciência sobre os ataques contra os poderes em Brasília. Era hora de escrever. Mas quem escreve também sente, e de estupefação à indignação, seguiram-se as horas, e os dias; finalmente a excrecência chegou às salas das instituições mais poderosas do país, e o vandalismo aplicado contra espaços físicos e simbólicos se tornou prova filmada pelos próprios golpistas. A casa caiu. Mas somente para alguns.
O que sustenta a impunidade do mentor? Todos sabem que o ex-presidente Jair Bolsonaro fomentou, instigou e até organizou detalhes do que deveria ser um golpe de Estado. Os executores da invasão e alguns “cabeças” do movimento antidemocrático estão presos. Bolsonaro até agora está inelegível e teve o passaporte recolhido. Mas continua livre.
Enquanto Jair Bolsonaro e seus filhos seguirem impunes haverá um 08 de janeiro mal resolvido afrontando os poderes e a democracia brasileira.
Os brasileiros patriotas não admitem anistia. Mas quem manda nesse país?