Marcelo Henrique: E as nossas meninas?

Marcelo Henrique

Há algumas semanas estamos convivendo, infelizmente, com as repercussões deum crime bárbaro e continuado, o de estupro de uma menina que acabou engravidando. O fato, amplamente repercutido na mídia, externa a durarealidade de nossas meninas, numa sociedade praticamente cheia de mazelas esem perspectivas ou alternativas.

Desde cedo, crianças de ambos os sexosconvivem com o assédio de seus familiares, vizinhos ou mais próximos, àmercê dos desejos irracionais e de animalidade.

O abandono ou a falta de atenção e cuidado familiar, a inexistência ou ineficiência da educação institucional e a impunidade de muitos agressoressão causas concorrentes, quase sempre destacadas pelos especialistas notema.

Em paralelo, nas periferias das grandes e médias cidades brasileiras, há um outro problema que também vem se agravando, sobretudo em face da instabilidade econômica e das políticas governamentais insuficientes.

Muitos adolescentes, dos dois sexos, inclusive pela carência de possibilidades de emprego regular, infelizmente, acabam tendo seus corpos a única alternativa viável para a sobrevivência.

Percebem, aos poucos, o interesse por seus corpos infanto-juvenis, disputando mercados com os profissionais do sexo, mais experientes ou de maior idade.Um outro elemento a agregar neste triste quadro é o frenético apelo pela sexualidade (cada vez mais precoce), que adultiza rapidamente nossas crianças, assim como a convivência com as drogas ilegais, outro mercado clandestino e igualmente temerário.

Um fator que não pode ser deixado de lado na análise destas problemáticas é a total incapacidade do Estado em lidar com a delinquência e proceder ao atendimento psicossocial das vítimas.

Não basta ter-se o mais moderno diploma legal para a defesa dos direitos dos infantes e adolescentes (o Estatuto), sem garantir e primar pela operacionalização dos mecanismos degarantia de tais direitos.Fundos, Conselhos Municipais de Direitos e Conselhos Tutelares precisam receber, assim, um efetivo aparato técnico-instrumental, bem como os necessários recursos para que, enfim, se possa minimizar o problema, seja pela recuperação social dos envolvidos, garantindo-se trabalho, renda,educação, saúde e socialização dos mesmos, seja pela efetiva repressão e punição – policial e judiciária – daqueles que se locupletam ante a miserável condição de nossas crianças e adolescentes.

Neste espectro, o envolvimento de pessoas importantes e influentes de nossas cidades, bem como a participação da força policial repressora do crime organizado e com respostas judiciais rápidas em relação aos “criminosos do sexo” são os grandes desafios de nosso tempo.

Verdadeira cruzada pela ética na Sociedade é o que se espera, contando com a participação efetiva de todos aqueles que, da perplexidade e da indignação,possam partir para a ação participativa na defesa dos mínimos direitos existenciais de nossas infantes e jovens.

E que em breve futuro, nossos noticiários não consignem mais o registro destes atos bárbaros, os quais já deveriam ter deixado de fazer parte denosso cotidiano social.

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