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Mais votado reforça tropa de choque de Collor, em atrito com Renan Filho

O vereador mais votado em Maceió, delegado Fábio Costa (PSB), passa a ser peça útil ao senador Fernando Collor (PROS), que disputa a reeleição enfrentando o governador Renan Filho (MDB).

Segundo o instituto Paraná Pesquisas, Renan está com 37,1% das intenções de votos; Collor vem em segundo, bem abaixo de Renan e empatado tecnicamente com Fábio Costa: 20,2% e 18,9%.

A presença de Fábio Costa nas eleições do próximo ano, levando em conta o cenário atual, tem o potencial de atingir Renan Filho, diminuindo a diferença entre o governador e o senador, que hoje é quase o dobro.

Caminhos

Se Collor aceitar inflar Fábio Costa no cenário político alagoano, repete a mesma estratégia usada pelo senador Renan Calheiros (MDB) em 2018.

Com duas vagas abertas ao Senado, Calheiros tinha pela frente dois fortes concorrentes: Rodrigo Cunha (PSDB) e Benedito de Lira (PP), pai do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).

O senador “grudou” sua imagem à do ex-ministro dos Transportes, Portos e Aviação do Governo Michel Temer (aliado de Renan), Maurício Quintella, que aceitou o sacrifício de disputar a segunda vaga ao Senado para retirar votos de Rodrigo Cunha, enquanto Benedito de Lira foi perdendo a batalha na busca pelo segundo voto.

Resultado é que Rodrigo Cunha ficou em primeiro lugar na votação, com 34,42% dos votos e Calheiros, 23,88%. Quintella ficou em terceiro e ganhou, como consolação, a poderosa Secretaria Estadual de Infraestrutura, hoje com potencial de movimentar R$ 5 bilhões em investimentos para obras em todo o Estado.

O objetivo de Renan era eleger Quintella na segunda vaga. Não funcionou mas diminuiu a distância de votos entre ele e Rodrigo Cunha.

Pouca expressão

Apesar de ser o mais votado em Maceió, Fábio Costa é um vereador de pouca expressão na Câmara e é dono das indicações na Secretaria de Segurança Comunitária.

Mas, nesta quinta-feira, 6 de maio, o vereador deixou o silêncio de lado para mudar a estratégia. Discursou, lamentou as mortes por Covid entre profissionais da Polícia Civil, reclamou dos “marginais”, dos “bandidos” e criticou Renan Filho.

Apoiador de Jair Bolsonaro, Fábio Costa usa a mesma linguagem do presidente da República e repete jargões bolsonaristas. Deu certo nas eleições do ano passado: teve mais de 11 mil votos.

Fábio Costa foi o delegado responsável pela execução de 11 suspeitos de assalto a banco, na cidade de Santana do Ipanema (sertão alagoano) em 8 de novembro de 2018. A Polícia Civil nunca revelou quem financiava o potencial da quadrilha, que trabalhava também com explosivos. A pirotecnia da ação atraiu os votos dos que pensam que “bandido bom é bandido morto”.

Interesses

A vaga ao Senado em 2022 não interessa apenas a Collor mas também a Rodrigo Cunha.

Tanto que, enquanto Collor se mexe para frear as expectativas positivas do governador para o próximo ano, Rodrigo Cunha quer mostrar, na CPI da Covid, o destino do dinheiro federal para Alagoas, alertando para possíveis casos de corrupção.

Abrir investigações da Polícia Federal em Alagoas desestabiliza o relator da CPI, o senador Renan Calheiros, pai do governador. E aproxima Rodrigo Cunha do Palácio do Planalto, que move operação nas redes sociais, na Justiça e na própria CPI para obstacularizar os trabalhos da comissão, principalmente pela presença de Calheiros na relatoria.

O senador, por sua vez, se declarou suspeito para analisar irregularidades em Alagoas. Tanto Renan Calheiros quanto Renan Filho, assim como integrantes da CPI, repetem que não há investigações em Alagoas.

Por isso, Rodrigo Cunha mira a compra de 300 ventiladores clínicos de UTI via Consórcio Nordeste junto à empresa Hempcare. A Operação Ragnarok, da Polícia Civil da Bahia, investiga a compra destes equipamentos por R$ 48 milhões, pagos antecipadamente pelo Consórcio Nordeste, mas sem a entrega deles.

Para o senador, Alagoas teria sido um dos estados lesados na fraude. Ele quer saber onde está o dinheiro para a compra destas máquinas que deveriam estar funcionando nos hospitais do Estado.

A estratégia do senador tucano é que, mesmo não avançando na CPI, o desgaste de Renan Calheiros e Renan Filho beneficie sua candidatura ao Governo de Alagoas.

Cunha, segundo o Paraná Pesquisas, é favorito na disputa ao Governo assim como seu aliado, o prefeito JHC (PSB), mas é improvável que o chefe do Executivo deixe a administração da capital pela metade.

A CPI da Covid investiga o dinheiro repassado aos estados pelo Governo Federal durante a pandemia. Mas, segundo ficou definido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), isso não abrange o uso deste dinheiro nos estados.

Um dos integrantes da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede), reforçou que são alvos da CPI os repasses de dinheiro federal aos estados e os critérios deste repasse. Disse ainda que existe relatório do Tribunal de Contas apontando que existem municípios brasileiros que receberam repasse a menor, via União, para ações contra a pandemia.

Este xadrez não interessa ao presidente da República. Ele acusa governadores e prefeitos de corrupção, usando o dinheiro da pandemia.

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