Maceió: Pré-candidato a vereador denuncia opressões da juventude; entenda

A juventude brasileira passa por momentos difíceis nesta conjuntura nefasta que tomou conta do Brasil nos últimos anos. No entanto, o desfecho de hoje esteve gestando na sociedade a muito tempo, mesmo antes de toda a orquestração golpista da Direita para a retirada da Presidente Dilma Rousseff (PT) do cargo para o qual foi devidamente eleita.

Meados de 2014, emergiam os “movimentos” políticos que se autoproclamavam a cara da juventude brasileira, pintados de verde a amarelo e com rostinhos de comercial de margarina.

A aposta da Direita na juventude não passou de outro golpe, mas que, infelizmente, conseguiu adeptos com as promessas de empreendedorismo e desenvolvimento pelas vias liberais: nada veio.

O que sobrou para a juventude de maioria pobre e periférica? Eis a grande questão.

Porém, como a história não para, as eleições municipais de 2020 tem o potencial de colocar propostas para juventude, desde que ela se reconheça como agente político importante para o destino das políticas públicas e o direcionamento institucional das funções do Estado.

Pensando nisso, decidi entrevistar Paulo Roberto Lima da Silva, psicólogo, 26 anos, mais conhecido como Paulinho Lima nos círculos da Juventude do Partido dos Trabalhadores (PT) e no movimento estudantil, o qual fez parte durante muitos anos.

Paulinho é pré-candidato a vereador de Maceió pelo PT e insiste que a periferia precisa de representação política. Para ele: “É preciso colocar o povo na Câmara Municipal de Maceió”.

Veja a entrevista:

Maceió é uma capital com muitas contradições e dificuldades. Entre estas dificuldades está a forma como o poder público tem tratado, ao longo dos anos, a população periférica. Na política local, a notoriedade desta população é quase nula e só muda em tempos de eleição, ou quando a população, de maneira conjunta, cria modos de enfrentamento. Você considera que sua pré-candidatura propõe mudanças no cenário político? Quais?

Essa pergunta é muito importante, porque eu vivencio essa realidade, sendo um jovem da periferia. 

Eu consigo enxergar que a gestão municipal intensifica os trabalhos na periferia no período de pré-campanha, principalmente obras de saneamento básico, que são obras visíveis a população, e passam a impressão de que a prefeitura está atuando.

No entanto, falta assistência nos postos de saúde, e em políticas públicas para o bairro do início ao fim da gestão. Como também, vereadores de mandato só procuram a periferia para fazer assistencialismo.

É possível perceber que vereadores não querem a participação das pessoas na política, e por isso se apresentam como um político atuante, com a compra de voto disfarçado de colaboração e incentivo ao esporte, lazer e a cultura.

Como é isso? Estampando suas logomarcas em ternos de times de futebol de bairro, confraternizações e em doações a igrejas. Quando chega o período de pré-campanha, o político retorna ao bairro para cobrar os patrocínios e reverter em votos.

E minha pré-candidatura surge a partir desses questionamentos e inquietações, por perceber que a periferia precisa estar representada por alguém que de fato vive a periferia, levanta a bandeira da periferia e quer melhorar de fato a periferia. 

A periferia precisa de boas representações nos espaços de decisões, ser representada por pessoas que conhecem a sua realidade de fato, e que sabe quais as dificuldades que a periferia enfrenta. É preciso colocar o povo na Câmara Municipal de Maceió. 

A juventude periférica de Maceió carrega marcas de uma história de opressão profunda e que precisa lidar com a falta de assistência do Estado em várias áreas de vida, desde a educação básica até sua empregabilidade. Como você percebe, hoje, as necessidades desta juventude?

De fato, a juventude periférica passa por opressões diárias, pois, basta você ser jovem da periferia para ser criminalizado, e ser mal abordado pela polícia militar. Mas quando se fala em empregabilidade e educação, percebemos a diferença absurda entre o jovem periférico e o jovem que vive no conforto econômico maior.

De um lado temos o jovem que tem apoio financeiro da família, que não se preocupa com dívidas ou na ajuda financeira da casa, muito menos trabalhar e estudar na rotina diária, ou até trabalhar para pagar sua formação educacional acadêmica.

Do outro lado temos o jovem e a jovem da periferia, que muitas vezes precisa escolher, se continua estudando ou se só trabalha, pois os horários se chocam as vezes.

É com muita batalha que essa juventude consegue trabalhar e também estudar.

Eu vivo essa realidade, e com muita luta consegui me formar em Psicologia, e luto muito para que outros jovens da periferia também consigam ter um nível superior. Por isso, iniciei um projeto junto a outros amigos, chamado “PerifaEnsina” onde preparamos em 2019, jovens para o ENEM. 

A esquerda, a nível nacional, está passando por um momento difícil em relação a reestruturação de suas estratégias devido a recusa, de parte da população, a participação da política institucional. Em muitas ocasiões, a juventude parece não querer se envolver. Isto acontece em Maceió? Qual estratégia você tem utilizado para lidar com esta questão?

A juventude cumpriu um papel muito importante e de destaque na história do Brasil, principalmente na luta contra a ditadura militar. Percebo que a juventude continua se mobilizando para lutar em defesa da democracia e por uma sociedade mais justa.

Porém, percebemos que essa vontade de se engajar na luta social, não atinge a maioria da Juventude. Isso não acontece só em Maceió, e sim em todo país. 

Sempre que tenho a oportunidade de dialogar com algum jovem e escuto a resposta de que política é “coisa chata” eu respondo que, chato é completar 18 anos e não ter perspectiva de futuro, por não ter emprego na cidade, muito menos oportunidades de acesso à universidade. 

Estamos percebendo a juventude precarizada, se submetendo ao trabalho de entrega por aplicativos, onde muitas vezes, esse jovem percorre de bicicleta mais de 50 Km por dia para entregar alguma encomenda. É muito cruel com a juventude, esse tipo de trabalho, sem nenhum tipo de garantia trabalhista. 

Quando estou dialogando com a juventude, ao finalizar a conversa com esse jovem que não gosta de política, consigo fazer uma provocação, e com certeza o jovem faz uma reflexão.

O Partido dos Trabalhadores (PT) tem uma história de muito êxito no Brasil. No entanto, nos últimos anos, vem sofrendo ataques da Direita numa ofensiva bastante questionável e que gerou a atual crise política no cenário nacional. Você sente os efeitos desta crise em sua pré-candidatura pelo partido? Como tem feito para superá-la?

O Partido dos Trabalhadores (PT) foi o partido que mais fez pelo povo brasileiro e isso não tem como negar. Basta olhar para o passado antes do PT assumir o governo federal, e fazer uma comparação. Qualquer pessoa que viveu o período antes do PT e após o PT, vai perceber que o país vivia um período sombrio, e que com o PT o País avançou e saímos do mapa da fome e melhoramos a economia do Brasil.

E sim, eu sinto que muitas vezes o meu partido é colocado em debate como justificativa de não apoio a minha pré-candidatura. Mas eu sempre tenho argumentos verdadeiros para melhorar a visão de quem fala do meu partido. O Brasil tem mais de 50 partidos políticos, as pessoas não podem ter questionamentos e quererem olhar apenas quando o político faz parte do PT.

E não existe essa falácia de que o PT está falido e que se tornou um partido pequeno, pelo contrário, o Partido dos Trabalhadores é o partido que tem o maior número de governadores e deputados federais eleitos em 2018.

O PT venceu 4 eleições em seguidas para presidente, conseguimos levar o professor Fernando Haddad em 15 dias de campanha, para o segundo turno, apenas não conseguimos a vitória nas urnas. Depois de tanta grandeza e 4 vitórias consecutivas, perder na quinta, vai tornar o PT um partido falido? Jamais! O que dizer do PSDB e MDB nas eleições de 2018? 

Sem contar que o Partidos dos Trabalhadores após as eleições de 2018 chegou à marca de mais de 2 milhões de filiados, se tornando o maior partido do Brasil e o segundo maior do mundo. Temos o nosso Líder, o ex-presidente Lula, ativo e forte e que com certeza será muito importante nas próximas eleições.

A estrutura de poder em Alagoas é aversiva as manifestações políticas populares em seus diversos espaços. No entanto, você procura lançar sua pré-candidatura a partir de um ensejo popular. Quais grupos sociais que têm apoiado, até então, sua pré-candidatura? Como eles participam dos projetos?

Tenho a minha formação política construída na periferia, na igreja católica, no movimento estudantil e junto aos movimentos sociais. Venho dialogando com esses segmentos desde quando surgiu a possibilidade da candidatura.

Eu compreendo que é muito importante um diálogo com esses segmentos para se construir uma candidatura de forma coletiva, para um futuro mandato popular.

Quero um mandato com participação da população periférica, é assim que eu me imagino na Câmara dos Vereadores de Maceió.

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