Leva-se algum tempo…

Leva-se um bom tempo até sarar as feridas

Gorete da Mata

Leva-se um tempo até descobrir que a vida, um dia, acaba
Que o grande amor de sua vida pode não aparecer ou podem ser muitos
Que os sonhos de um dia podem não realizar-se e, mesmo assim,
A vida pode ter sentido.

Leva-se um tempo até perceber que o vício não grita que é vício
Que a mentira pode ter pernas longas,
Que o diabo nem é tão feio e até seduz…
Que a mágoa só faz mal a quem sente
E, que a força disso está em não gritar quem são.

Leva-se um bom tempo até sarar as feridas,
Esquecer-se das dores e voltar a enxergar na vida, flores…
Pode-se levar muito, muito tempo até descobrir que o Amor é nobre
Que para amar não é preciso estar perto ou mesmo, ser amado,
Que sonhos confundem-se com ilusões e que a vaidade mata.

Ah, leva-se um bom tempo, talvez uma vida,
Até descobrir que quem se foi, na verdade permanece,
Talvez mais perto que antes,
Que os erros também partiram de nós
E quem nem todos estão dispostos a sacrifícios…

Que um “eu te amo” pode ofender, afastar
Que nossos fantasmas são somente nossos,
Que nossas palavras também podem ferir,
E que raramente somos vítimas

Leva-se sempre muito tempo até perceber quem se é
E que nosso “eu” possui imagem invisível,
Palpável, no entanto.
Que apesar de nossas, as palavras traem,
Que há coisas que ainda não aprendemos, apesar das teorias

E que há coisas que apenas levam tempo,
Muito tempo… para ser sentidas.

.