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Jornalismo ambiental em SC e a dor que afunda Maceió

Participei neste sábado, 16, do lançamento do livro “Território e texto: Jornalismo ambiental em Santa Catarina”, e não pude me furtar da lembrança que dói vinda dos lados da Mundaú, a sereia maceioense colapsada pela sanha capitalista representada nas caricatas figuras políticas das Alagoas, os anti-berço que saqueiam as nossas cidades através de carimbos e assinaturas, autorizando a destruição do meio ambiente.

A inspiração para o texto vem do empenho participativo que nos caracteriza o perfil de comprometimento com o jornalismo independente, sem perder tempo repetindo jargões de última hora que servem apenas para mascarar os rostos dos verdadeiros responsáveis pelo crime socioambiental desencadeado pela mineração desenfreada e irresponsável que desde a origem beneficiou a poucos e prejudicou a muitos, sob o beneplácido dos poderes em Alagoas.

De acordo com a jornalista Miriam Santini de Abreu, que é também organizadora e articulista com participação na obra, ” se o jornalismo é também uma forma de conhecer, não basta, no processo de mediação jornalística, limitar-se a ininterruptamente noticiar fatos sem inseri-los na totalidade dos fenômenos dos quais fazem parte e que os explicam”.

O Blog do Odilon, neste veículo de comunicação, tem feito mais do que mediar notícias, cumprindo à risca o pressuposto de busca pela explicação dos fenômenos em sua totalidade. Para realçar, recorto um trecho da matéria “Arthur Lira expõe preocupação do mercado com futuro da Braskem”, onde sua análise nos faz perceber o papel do governo federal na situação específica dessa mineradora chamada de criminosa pelos maceioenses.

Registra a fala recente do político: “Queria agradecer e enaltecer a ida do ministro Celso (Sabino) e do Freixo a Maceió comigo para que a gente, de uma vez por toda, jogue na lata do lixo a versão de que a minha cidade, do meu estado, está afundando”.

A divisão espacial da cidade, de acordo com Arthur Lira, mantém incólume o lado turístico de Maceió, no qual a rede hoteleira implantou seu império e teve o desprazer de acompanhar o rompimento de uma das minas localizadas na Lagoa Mundaú, na região do Mutange, lugar antes vívido e habitado agora destruído e colapsado social e historicamente em pleno período de alta estação, neste dezembro de 2023.

O nome disso é maldade, desumanidade, cinismo? Não. É algo impessoal, bruto, é capitalismo e neoliberalismo.

O leitor pode questionar o que existe de similar entre o livro da Coleção Jornalismo no Coletivo lançado em Florianópolis, e a situação de Maceió, mas eu explico: o drama ambiental produzido em nosso país sob os olhares da política liberal.

Mas também ressalta a importância do trabalho jornalístico para além da repetição de jargões, compreendendo que as ameaças ao ambiente ferem os filhos e filhas dos territórios sociais; que no caso alagoano, se concretiza em perdas materiais e simbólicas das famílias desalojadas, tornadas ainda mais empobrecidas do que antes do crime ambiental reverter em danos literais nos seus quintais.

Mostra que o jornalismo não pode simplesmente se bastar na reprodução das narrativas de políticos e empresários, que no amálgama dos interesses acabam se tornando porta-vozes uns dos outros a partir do balcão de negócios que vigora no modelo de democracia representativa que temos.

O jornalista Odilon Rios tem escrito sobre a omissão do presidente Lula no processo maceioense, seu interesse no sufocamento do caso Braskem, invisibilizando uma legião de pessoas desalojadas, umas mal pagas, outras ignoradas, e todas desterritorializadas à força pelas circunstâncias criadas.

O mesmo Lula que assistiu vítimas de tragédias provocadas ou não, em outras localidades do Brasil, larga o caso de Maceió no embolar de narrativas entre interesses liristas e calheiristas, sacando um marketing de última hora para beneficiar o setor turístico enquanto lava as mãos e segue em campanha rasa sobre seu governo.

O liberalismo com o qual convivemos busca nos emparedar entre ele ou o fascismo.

No caso, nenhuma das perspectivas políticas prezam pelas questões socioambientais.

Muito há para ser revelado, analisado e trazido à lume pelo jornalismo, seja em Santa Catarina ou em Alagoas, este país precisa de vozes independentes, pela vida!

 

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