Filho sueco de Garrincha fala com orgulho de pai que não conheceu

Claudia Varejão Wallin – BBC

Único filho homem vivo de Garrincha, o sueco Ulf Lindberg fala com orgulho do pai que nunca viu.

“Não há ninguém como Garrincha”, disse Ulf em entrevista por telefone à BBC Brasil de sua casa em Halmstad, no litoral oeste da Suécia. Seu estilo de jogar era e sempre será único”, acrescentou ele.

Ulf classificou como uma “catástrofe total” a atuação da seleção brasileira na final da Olimpíada de Londres no sábado, que deu vitória ao México por 2 a 1.
“Fiquei furioso. A seleção jogou constrangedoramente mal. Foi uma catástrofe total. E apesar de Pelé ter dito que Neymar é tão bom quanto (o argentino Lionel) Messi, não foi isso que vimos no gramado”, desabafou.

Ulf nasceu de uma aventura amorosa de Garrincha (1933-1983) com uma jovem sueca em 1959, durante uma excursão do Botafogo na Suécia.
Nesta terca-feira, ele chega a Estocolmo como convidado especial das cerimônias de despedida a Råsunda, a arena em que o pai brilhou na final da Copa de 1958.

“Råsunda é um símbolo marcante da história de meu pai e do futebol brasileiro. Mas para mim, o estádio mais importante é o de Umeå (cidade do Norte da Suécia): foi em Umeå que Garrincha foi jogar em1959 com o Botafogo. E graças a isso eu existo”, brinca Ulf.

Adoção

A mãe o entregou em adoção para uma família sueca de classe média quando ele tinha apenas nove meses de idade. Aos sete anos, veio a revelação: os pais adotivos contaram a ele que seu pai era Mané Garrincha, que encantava multidões nos estádios de futebol.

‘Não há ninguém como Garrincha’, diz o filho

Mas o encontro de pai e filho nunca aconteceu.

“Lamento muito nunca tê-lo encontrado. Até hoje, muitas vezes me pego pensando em como seria bom poder ter conhecido meu pai. E estar com ele agora, dizer o quanto o admiro. Mas não foi possível. Infelizmente, ele tinha problemas sérios com o álcool. Se não fosse por isso, poderia estar hoje aqui entre nós, comemorando o reencontro com os companheiros de 58”, disse Ulf.
Em 1977, ele chegou a ter esperanças de ver o pai: um jornal sueco havia divulgado que Garrincha queria conhecer o filho. Chegou a ser combinado que Ulf viajaria no ano seguinte para a Argentina, na Copa de 1978, para encontrar Garrincha, que faria comentários para um canal de TV.

“Mas a viagem não aconteceu. Meu pai bebia muito, e infelizmente já não estava bem”, lembra Ulf. Garrincha faleceu em 20 de janeiro de 1983, vítima de uma infecção generalizada.

Restou ao filho continuar buscando o pai em recortes de jornais, filmes de TV, na internet.

“Uma das minhas manchetes de jornal preferidas sobre meu pai aqui na Suécia, depois de um show de dribles dele em Gotemburgo contra a seleção russa, dizia que ele era um talento extraterrestre: ‘De que planeta ele vem?'”, conta.

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