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Feminismo contra estupro: luta!

Conheci várias facetas daquilo que foi instituído pelo patriarcado como direito do homem (entenda-se do “macho”). Parecia que eram apenas partes simplórias do sistema de crenças comportamentais que regia nossas famílias, mas em mim trazia incômodo ouvir, mesmo que ninguém se importasse com isso.

Cedo da vida soube que meninas sempre perdiam nas brigas porque os meninos além de possuírem mais força física para nos bater poderiam acessar de maneira impune um arsenal de palavrões e ofensas de caráter sexual, onde estava incluído até mesmo colocar o pênis para fora da roupa e apontar na direção das meninas, causando enorme constrangimento.

Foi mais ou menos por isso que saí de uma quadrilha junina na escola quando tinha 8 anos, e o meu par era um menino “safado” que gostava de esfregar o corpo nas meninas. Fiz a reclamação mas nem as professoras, supervisora, diretora ou até mesmo as outras meninas dançantes levaram a sério, sempre tratando o caso com riso e justificativas engraçadas. Não tendo outro jeito, desisti de dançar e ele seguiu com outra parceira.

Mas infelizmente não era somente na escola que aquilo estava. Aquele direito de incomodar estaria em quase todos os homens com quem pudéssemos encontrar, e não acessar esse direito era algo muito pessoal do menino, rapaz ou homem feito. Ouvia na conversas comuns relatos longos sobre o direito que qualquer homem teria de assediar mulheres, sempre responsabilizando elas por todos os desfechos possíveis.

“Homem tem direito de cantar até a própria mãe, ela aceita se for safada”. Ouvi muitas vezes. Me indignei muitas vezes, ainda sem os recursos da informação de agora, mas com repúdio genuíno.

Antes do nove anos ouvi falar sobre o Pedrão. Meu pai dizia que era um “mal elemento”. Nas conversas se falavam que este ente havia estuprado a própria mãe idosa, acamada.  Virou um fantasma em minha vida, mas se tornou fugitivo e sumiu no oco do mundo. A velhinha havia morrido de doença e desgosto.

Mas não foi somente mulher que foi vítima de estupro na cidade pequena na qual morava. O bêbado que cantava nas ruas foi estuprado na beira do rio, segundo diziam e jogado no rio para afogamento. O suspeito morava em frente a minha casa, e lembro nitidamente do seu rosto de boy. Fugiu para a Bahia e nunca mais voltou.

Teria muitos casos verídicos para relatar e resgatar das memórias doloridas e assustadas, mas não é este o intuito da escrita.

Nosso foco é mesmo esta naturalização da violência contra corpos alheios que o patriarcado conferiu à vida social, na supremacia fálica que segura sistemas de posse e mando.

Muitos homens antigos que conheço são defensores do estupro como se não estivessem fazendo isso, mas apenas reproduzindo uma cultura.

Bolsonaro não foi o criador desta mazela, mas sem dúvida aglutinou uma aura de legitimidade que tem a capacidade de sequer intimidar um estuprador, além do elemento absurdo de tê-los com voz na mídia, a partir do próprio presidente da República.

Sim, a cultura do estupro está nas casas de família, e agora no Palácio do Planalto.

Entendemos a partir disso que a sociedade brasileira tem urgência de feminismo!

Robinho (jogador de futebol envolvido em escândalo de estupro na Itália) é mais um. Mais um asqueroso, odioso e indiferente estuprador. Mas o mal real está fincado nas instituições e devemos erguer as barreiras no combate a esta irradiação pérfida de violação a partir de cada chão onde pisamos.

Lembra da cena da “buceta rosa”, lá na Rússia?

Em Alagoas um parlamentar viralizou um vídeo falando que era “comedor de buceta” em Brasília.

E o país elegeu um ser que declarou utilizar as regalias de parlamentar para “comer gente”, em nome da família e dos bons costumes!

Sim, para esta gente “de bem” o estupro não é crime, mas esta gente má não pode vencer a parada, porque a luta das feministas é maior!

Que maravilha saber que existe o movimento feminista! Que consolo sentir-se parte dele!

Vamos convocar cada vez mais mulheres a compreender esta luta?

Nossos corpos são as nossas lutas e vidas! Nenhum estuprador merece compreensão. E cada lar pode ser um território de combate às mazelas do patriarcado.

 

 

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