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Falando sobre extrema direita em Santa Catarina

Estive na condição de participante em uma palestra organizada pelo SINTRAJUSC em Florianópolis, SC. O evento fez parte do Ciclo de Formação Sindical Mundo do Trabalho e Direitos em Debate. Tema: Algoritmos e extrema direita: como enfrentar o neofascismo  na era dos monopólios midiáticos.

Como palestrantes, as jornalistas Magali Cunha e Letícia Oliveira, ambas afinadas com pesquisas sobre os desafios ligados ao tema, mas com abordagens próprias e instigantes.

Impossível não silenciar e pensar profundo diante de declarações sobre os movimentos concretos da extrema direita no mundo, reconhecendo a existência de uma “organização transnacional” a partir da dinâmica da internet, em uma média temporal que parte dos anos 90.

O capitalismo gera suas crises, e nos contextos de descontentamento econômico aguçado emergem as ondas conservadoras, mas a extrema direita foi além, e começou a apontar seus formadores. Enquanto a esquerda brasileira ria dos absurdos de Olavo de Carvalho, os cursos ministrados por ele avançavam e alcançavam jovens reprodutores de uma concepção ideológica anti-modernidade, mas extremamente rentável, com vistas ao propósito de difusão de ideias que corroíam as instituições por dentro.

De acordo com Letícia Oliveira, movimentos de extrema direita surgidos na Europa atuaram em uma perspectiva de “gramscismo de direita”, a partir do conceito de meta política, visando uma revolução conservadora. Nos EUA, uma repaginação da supremacia branca. No Brasil, aproveitaram movimentos de insatisfação para capturar as formas de atuação da esquerda com perspectivas inversas. No pano de fundo, a assertiva gramsciana de que “através de uma mudança cultural, é possível uma mudança social”, mas neste ponto, tais mudanças se referem à destruição das referências culturais modernas.

Quem não lembra do quanto sorrimos com os cartazes contra Paulo Freire? Eles não estavam descontextualizados, como muitos de nós pensamos. Faziam parte de um movimento para desacreditar  seu método educacional eivado de simbolismos políticos libertários.

Magali em sua abordagem, trouxe a influência da religião nesse contexto, área na qual emerge como pesquisadora, e afirmou que a extrema direita tem sua teologia entre muitas designações religiosas, não apenas nos evangélicos. O que aumenta sobremaneira o seu alcance entre as diversas populações que fazem um país gigante, como o Brasil.

Letícia mostrou a tensão criada pelas “correntes aceleracionistas”, que segundo ela, preconizam um aceleramento das tecnologias ao ponto de ter uma ruptura social no mundo, para criar uma nova sociedade, sem minorias”.

Fato inconteste também, é o desmoronar das instituições democráticas por dentro. Estes representantes da extrema direita institucionalizam a implantação de uma cultura política reacionária, que assegura a impotência das políticas humanitárias, de denúncias, de direitos constituídos.

Como exemplo, membros do executivo brasileiro que afastam professores sob acusação de “militância política” sendo acobertados pelo judiciário, normalizam a arbitrariedade do momento.

Estas ideias de renovação ideológica com articulação identitária extremista, buscam se concretizar em territórios de disputas políticas efetivas, como no caso imediato, eleições municipais.

Um sociedade regida por algoritmos que trabalham para o ódio e fascismo, desqualificando o conhecimento,  busca substituí-lo por frivolidades e decadência de princípios éticos e coletivos, para banir os dissidentes desta seita política e econômica, ferindo de morte a democracia e as conquistas da modernidade.

Utilizando para isso os canais midiáticos, eles nos deixam perceber que neste crime contra a vida social também não há perfeição, e precisamos descobrir cada vez mais formas eficazes de disputar território, ocupando politicamente as ruas e as redes sociais com vertentes discursivas que elevem a existência da diversidade, proteja a liberdade e preze pelos direitos de materializar a existência no planeta, sem supremacias, com democracia e sentido humanitário amplo.

Como não sair comprometido e comprometida, de um diálogo desse?

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