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Fake news? Jornalismo nelas!

Joaldo Cavalcante – Jornalista, ex-secretário de Comunicação do Estado de Alagoas

Nos tempos de formação em Comunicação, recordo-me das discussões acadêmicas acerca da “barrigada” como algo vexatório ao jornalismo, desde o Renascimento, com a genial invenção de Johann Gutenberg.

Mesmo sendo residual na veiculação diária, a falsa informação sempre motivou debates em encontros dos jornalistas, que também discutiam a intoxicação informativa, assiduamente fabricada pelos chamados piratas da imprensa.

Mais recente, em plena reabertura democrática, já na travessia da produção analógica para o processo digital, houve crescente percepção de que zelar pela qualidade da informação de interesse público significava manter o compromisso com a sociedade e contribuir com o aperfeiçoamento das instituições.

Nestes atuais tempos bicudos, em plena era da digitalização de dados, as casuais “barrigadas” de outrora caíram em desuso, sendo engolida pelas fake news, que andam coalhando as redes sociais.

Agora, é como se os chamados pistoleiros cibernéticos profissionalizassem o modo de assassinar e distorcer a informação, confundindo as pessoas.

Eles terminam alimentando a intolerância e o ódio de maneira covarde, pois operam no anonimato. Roubam até a capacidade de discernimento do cidadão comum de melhor interpretar o cotidiano, haja vista a profusão de mentiras em forma de comentários e notícias até grosseiramente recortados.

Surgiu até a “pós-verdade”, considerada a palavra planetária do ano – predileta daqueles que cultivam a avaliação de que a verdade está perdendo importância.

Veja o caso do Facebook, a poderosa plataforma que restringiu o alcance dos sites noticiosos.

Algo muito preocupante, pois os conteúdos jornalísticos são construídos por textos e reportagens que, por regra, obedecem a checagem e inclusão de versões plurais dos acontecimentos.

Os que se refugiam nos escaninhos do submundo para destilar boataria, sabem manejar com destreza as plataformas.

No Direito Penal, aliás, destreza denomina roubo qualificado. Bem apropriado para quem envenena a consciência do próximo com falsidades, pilhando a esperança, plantando confusão e sabotando a democracia.

Como combater as fake News? Um dos antídotos está na aplicação de boa dose de jornalismo, que simplesmente é apuração.

Mais do que nunca, os profissionais de imprensa devem observar os ditames, claramente contidos no Capítulo III do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, para posicionar sua produção numa seara cada vez mais distante desse ambiente criminoso.

Como disse o espanhol Antonio Caño, do El País, em recente conferência no Brasil, nada indica que o público deixou de se interessar pelas notícias.

Tal assertiva reforça o fato de que a prática jornalística continuará a existir.

Portanto, que apliquemos jornalismo no vírus da mentira que por aí circula digitalizada.

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