Há 28 anos o tributarista Silvio Vianna era assassinado em Maceió, numa emboscada. Um típico caso de pistolagem: mandantes julgados e condenados, autor (ou autores) intelectuais sem castigo; instituições contorcendo-se em repetir que houve justiça e; homenagem da mediana classe média local dando a vítima o nome de uma rua mais um dia marcado como do servidor público.
Todos fingindo satisfação. Mas, o tamanho da articulação que se construiu para matar o tributarista prova que a impunidade é uma instituição escorada por tudo, até no que existe de mais sagrado: manter a inimputabilidade dos autores intelectuais.
Adriano Farias foi assassinado em 18 de junho, numa emboscada. Novo crime de pistolagem. Como no caso Silvio Vianna, as instituições se contorcem para segurar as investigações, silenciar as prisões, adiar conclusões e julgamentos, denunciar quem fez, não falar nem do autor (ou autores) intelectuais para “não atrapalhar” as apurações.
Tijolo por tijolo, postos logicamente, vai se erguendo o castelo da hipocrisia, a falsa sensação de justiça. E, ao final, a vítima é considerada culpada por ter mexido com gente graúda.
Note que este imaginário é muito antigo e consagrado no nosso Brasil. Mas em Alagoas ganha características especiais: os velhíssimos moinhos dos engenhos, enferrujados e podres, ainda seguram tragicamente o nosso futuro. Eles caem aos pedaços, se movem mais e mais lentamente, porém cumprem a função que lhes cabe: adiar a chegada da democratização nas nossas instituições.
Se, de fato, justiça e democracia caminhassem de mãos dadas em nosso presente, Silvio Vianna, Adriano Farias e outros não seriam os criminosos. Nem o tempo da impunidade pesaria em nossos corpos.
E os tempos seriam outros. Bem outros.