Efeito “colônia” na base da violência letal

O discurso sobre os efeitos trágicos da colonização na mentalidade do poder é conhecido, podendo ser reconhecido de longe. No entanto, na maioria das vezes o poder dominante se utiliza das mãos “subordinadas” para o cometimento de homicídios.

Matar se tornou mais cruel do que “mandar matar” por causa desta questão, inclusive. Pois quem manda não suja as mãos na mesma intensidade daquele que executa.

Para que este esquema de mando desse certo, foi preciso que existissem subalternos dispostos a praticar crimes contra seus iguais. Assim, podemos concluir esta linha de raciocínio considerando que estes também romperam os séculos e ainda persistem na psicologia social do nosso país.

Sensibilizada por este estudo, posso afirmar que sinto imensa tristeza quando identifico entre o povo, esta disposição autofágica em nome das benesses corriqueiras do convívio com o poder.

Poder matar é poder retirar alguém da cena social, e nosso imenso medo de morrer desde ontem virou trunfo nas mãos que empunham facas, punhais e armas de fogo. O medo também é condutor de servos.

Não há preço para o sangue derramado, mas há preço para derramar sangue.

Triste herança da colônia, mantida entre nós pelas artimanhas da dominação predatória, para a qual somos instigados a sorrir de vez em quando, por educação ou conveniência, pois se oculta nos ninhos mais célebres das altas castas.

O capitão-do-mato foi uma criação do escravagismo, e o assassino frio é base das casas-grandes, tribunas e instituições brasileiras as mais diversas, em configuração perene rompendo histórias.

A atualidade brasileira é um livro voltando páginas; tristes e doloridas páginas. O pobre voltando a ser propriedade do rico, é instigado a se ocupar diuturnamente com a violência estrutural, sendo convencido de que a morte do outro (igual) representa vitória e força.

Artimanha antiga na manutenção da violência letal.