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Duas mulheres, um objetivo: serem as mais votadas na região norte de Alagoas

Duas jovens brancas disputam quem terá mais votos em uma região onde a maioria da população descende de escravos e quase todo o eleitorado depende do Bolsa Família em tempos de desemprego ou quando as usinas de açúcar e álcool da região suspendem as atividades durante 6 meses.

As jovens são Flávia Cavalcante (MDB) e Cibele Moura (PSDB). Flávia já foi deputada estadual e até presidente da Assembleia em curto período; Cibele vai à disputa pela 1ª vez, para consolidar não apenas seu nome, mas de todo um grupo político que quer expandir seus poderes por toda a região.

Flávia é filha de Cícero Cavalcante, ex-prefeito de Matriz de Camaragibe e São Luiz do Quitunde. Ele ajudou a eleger a filha, Fernanda, à Prefeitura de São Luiz; está de olho no filho Fernando Henrique para Matriz de Camaragibe em 2020.

Cibele tem uma linhagem mais longeva. O bisavô dela, Abrahão Fidélis de Moura (1916-1992), era vereador de Atalaia, deputado estadual e deputado federal, cassado pela ditadura militar.

Mas, a história dela é mais identificada com o pai, neto de Abrahão, Abrahão Moura, ex-prefeito de Paripueira, que elegeu o sucessor, Haroldo, e emplacou a esposa, Emanuele Moura, em Barra de Santo Antônio, onde a família Farias (do ex-tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor, Paulo César Farias) mandava e tem hoje esperança de eleger, para 1º suplente de senador, o empresário Luiz Romero Farias, irmão de PC e do ex-deputado federal Augusto Farias.

Cibele é sobrinha de Antônio Moura, superintendente Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) em Maceió, uma máquina de dinheiro e de prestígio eleitoral.

Palanques

Flávia e Cibele se alfinetam nos palanques do norte alagoano, mas sem citar uma a outra e na condição de inimigas cordiais. Estilo bem diferente do que o povão gosta: recados em tom de baixaria e palavrões respondendo “o outro lado”, animando a multidão.

Elas têm de agir assim por causa dos seus grupos políticos, aliados de Renan Filho (MDB) e Fernando Collor (PTC), que polarizam a disputa ao Governo.

Flávia é esposa do presidente da Câmara de Vereadores de Maceió, Kelmann Vieira (PSDB), vice de Collor na chapa ao Executivo. Porém, Cícero Cavalcante, pai dela, vota em Renan Filho. Bastante empolgado em campanhas não tão passadas assim- no ataque aos inimigos- Cícero também aderiu a um estilo mais moderado, no pedido de votos para a filha. Isso porque ele tem a promessa de Renan Filho e do senador Renan Calheiros (MDB) para 2020, quando Fernanda- a filha prefeita de São Luiz- disputa a reeleição.

Renan Filho ganhou o apoio de João Cordeiro- inimigo político de Cícero Cavalcante em São Luiz e com todas as fichas apostadas para a eleição de 2020 no lado oposto ao de Cícero.

Nas redes sociais, Cícero ameniza: “O governador não pode dispensar votos, por isso tem o apoio de João Cordeiro”.

Porém, há laços entre João Cordeiro e Abrahão Moura que podem virar uma aliança daqui a dois anos, alterando a composição dos votos na região norte alagoana.

Mais gente no páreo

Apesar de Flávia e Cibele se esforçarem não somente para vencer as eleições mas mostrarem mais votos- turbinando as famílias delas e os aliados para a votação nas prefeituras e câmaras de vereadores- ambas podem ficar em segundo plano.

Porque o campeão de votos cotado na região norte tem nome, sobrenome e décadas na política: Olavo Calheiros, tio do governador. Ele disputa a cadeira de estadual quase sem sair de casa, em Murici.

O estilo Olavo é o mesmo: conversas com prefeitos, que mobilizam suas bases para elegerem o tio do governador e irmão do senador Renan Calheiros.

Quem pede votos a ele, também tem de ajudar a eleger Isnaldo Bulhões (MDB) a federal.

É para garantir uma aliança entre os Calheiros e os Bulhões. Aliança que pode transformar Isnaldo em candidato ao Governo, em 2022.

Abrahão Moura também está com Renan Filho. E ajuda na eleição de Isnaldo Bulhões a federal e Maurício Quintella (PR) ao Senado.

Cícero Cavalcante também pede votos para Renan Filho, Renan Calheiros e Maurício Quintella, mas a deputado federal o acordo é com Marx Beltrão (PSD).

Existe ainda um encaixe na disputa, também com peso político: é Sérgio Toledo, que vai para a disputa à federal e busca, pelo menos, 10 mil votos no norte alagoano. Bem próximo aos Calheiros, Sérgio está nas bancas de apostas de todos os partidos como um dos mais mais votados. Seu estilo é semelhante ao de Olavo: conversas com prefeitos, lideranças-chaves nas cidades e discrição no fazer político.

Só que no meio do caminho existem Flávia e Cibele. O jogo e os jogadores não são para amadores.

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