Drogas: o simplismo e as questões sérias

A sensação deixada no final da peça publicitária é que basta simplesmente falar sobre os perigos das drogas em casa e... pronto, tudo resolvido!

José Luciano Duarte– padre e psicólogo ([email protected])-Gazeta de Alagoas

Anda circulando nos meios de comunicação uma nova campanha de combate ao uso do crack. Nada mais simplista. Nela, os pais são perguntados se já conversaram sobre determinados temas com seus filhos. A resposta é sempre sim. Mas, quando a questão é se já conversaram sobre o crack, os pais ficam encabulados e dizem não. E a propaganda se encerra dizendo que há saída para o uso do entorpecente.
A sensação deixada no final da peça publicitária é que basta simplesmente falar sobre os perigos das drogas em casa e… pronto, tudo resolvido! Com a disseminação da informação no meio cibernético em tempo real é de uma inocência pueril acreditar que nossos jovens não saibam dos perigos da dependência química.

As perguntas feitas aos pais na supracitada campanha deveriam ser as seguintes: vocês já se colocaram em oração – independente da religião, ou mesmo na ausência dela – junto com os seus filhos? Já abriram em família espaço para partilhar as angústias e dificuldades? Vocês lutam para construir um lar ou simplesmente vivem juntos como numa espécie de hotel?

São questões sérias, cuja vivência em família prepara os jovens para o enfrentamento dos desafios – vitórias e derrotas –, evitando seu ingresso no submundo das drogas. Mas fazer referência a valores, a Deus ou a questões religiosas não entra em pauta na promoção das campanhas oficiais. É como se os cidadãos não tivessem dimensão religiosa. Agora, a pergunta que não pode calar: há como botar fé nesse tipo de publicidade?

Não adianta querer trabalhar a prevenção contra o uso de drogas sem abordar todas as dimensões do ser humano. Há uma música da banda Catedral intitulada “o sentido” cujos versos dizem: “em seu coração mora um abrigo, mas está vazio, corre perigo…”. Esse vazio é a lacuna deixada por uma sociedade secularizada, que ainda hoje trata laicidade como sinônimo de aversão à religião. Ninguém procura ou continua na dependência química por ausência de informação. Procura porque lhe falta algo, há uma ausência de sentido, cujo uso das drogas faz esquecê-la.

Da mesma forma, o tratamento dos usuários químicos somente logrará melhores resultados com um apoio multidimensional, onde a dimensão espiritual não seja negligenciada. Pois, o homem que adoece é aquele que traz no coração a sede de infinito.

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