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Do bastidor do P 20, Benedita e Zambelli

Às vezes se torna importante começar um relato pelo fim.

Como estive no P 20, vivi situações de bastidor que posso revelar tranquilamente, em um episódio envolvendo Benedita da Silva e outro a envolver Carla Zambelli.

Ao solicitar uma foto daquela que estava no 1º Encontro de Mulheres Parlamentares como Secretária da Coordenação da Mulher, Benedita da Silva, a mesma saiu da pose e me abraçou dizendo que queria tirar aquela foto comigo, deixando a repórter sem saída.

Estava querendo a imagem para ilustrar o texto, onde seu relato de mulher política de 82 anos de idade havia preenchido a escrita com satisfação e admiração da minha parte. Mas também há paixão no trabalho jornalístico, ainda que neguem.

Pouco depois, quando no segundo dia do evento fui impedida de entrar na área de alimentação pela cor do meu crachá de imprensa, esperava algumas pessoas para articular fala, pois também no segundo dia me impediram de ter acesso à plenária. Foi quando Carla Zambelli se dirigiu ao local acompanhada da parlamentar italiana, e fez questão de chegar até mim na intenção de me pedir para fotografá-las. Me perguntou se falava português, e respondi que sim, completando com a frase “eu sou daqui”.

Ao que retrucou à queima roupa: “Te achei tão bonita que nem parece ser daqui”! Esse é o estilo Zambelli de ser e atuar no mundo, pois chamou o povo daqui de … feio!

É uma parlamentar que só vigora em cenário de retrocesso na qualidade humana, pois está construída sobre inúmeros preconceitos e se revela analfabeta em humanidades. Ou seja, não ter falado no P 20 foi um benefício ao Brasil, que diante de mulheres parlamentares do mundo poderia passar por grande vexame!

Agora vamos ao começo, onde Benedita da Silva, fez um relato pessoal na plenária, no primeiro dia, quando esta repórter circulou normalmente por todos os ambientes:

“Se não lutamos, não acreditamos e não mudamos realidade”, alertou aquela que um dia foi empregada doméstica no Rio de Janeiro, e hoje estimula outras mulheres a terem “coragem de concorrer e ocupar um lugar na política formal”.

Quando alcançou o acesso às representações por vias democráticas, eleita pelo voto, disse que, ainda assim, não se via naqueles ambientes, mas se sentia preenchida por ter saído de um coletivo formado por outras mulheres, outras negras e faveladas que lhe ajudaram se tornar vereadora, no início do processo.

Quando se tornou deputada constituinte, não via “caras pretas”, mas estava lá, sabendo que “nada é de graça, mas se você batalha, bota fé que dá”.

“A política é complexa, mas precisa de cada uma de nós.”

“Quando olho para todas as mulheres que me cercam, é para mim que olho”.

“Devemos fazer dos espaços que conquistamos, uma escada para outras”!

Perceber a diferença colossal entre as duas parlamentares é muito fácil Brasil.

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