Texto escrito à guisa de reflexão. Nascido após a dura tarefa de ver e ouvir dois vídeos produzidos pela Mansão do Caminho, em um solo de Brasil apolítico, que trata a existência humana como uma fatalidade a arrastar uma destinação inevitável, para o lançamento de um livro declaradamente escrito pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda através da mediunidade de Divaldo Franco.
O ambiente místico/religioso do evento traduz a ideologia mor dos seus organizadores, que reiteram a ideia punitiva com relação à rebeldia, sempre vinculada aos apetites humanos na alçada de prazeres e vícios, com pauta estendida também para protesto e manifestações políticas de rua.
A pandemia continua sendo tratada como fenômeno isento de interferência política, e o próprio Divaldo afirma que “as autoridades não podem fazer o que nos cabe fazer”, com relação aos cuidados sanitários. Tudo ajustado ao isolamento de responsabilidades do presidente que essa grande margem de espíritas ajudou a eleger.
O silenciamento sobre o genocídio de Bolsonaro na pandemia é tão ensurdecedor quanto a crítica ao uso de armas.
“No rumo do mundo de regeneração” é o livro que reúne narrativas verdadeiramente preconceituosas, moralistas, acusando a humanidade de ter colocado Deus em um plano secundário e elegendo a presença do vírus como parte de um processo de mudança moral do planeta.
Pimba! Acertou no coração do senso comum espírita-religioso!
Enquanto esta semeadura de sombras com fundo musical religioso é feita com sucesso no lado ortodoxo e bolsonarista do meio espírita brasileiro, no lado dito progressista floresce a discórdia infundada, a acusação vil, o silenciamento combinado de vozes importantes na propagação da libertação do espírito e envolvimento social e político do mesmo como recurso evolutivo.
Enquanto o livro de contexto amargo (acima citado) conta com o incentivo de milhares de fanáticos, vozes surgidas das plataformas progressistas acusam pessoas preparadas para influenciar outros debates através da escrita, da fala e produção de documentários, de mercadoras do espiritismo!
Precisamos enfrentar este diálogo!
Percebemos que refutar Bolsonaro e sua política de morte não é suficiente para embasar uma jornada de contra-hegemonia no meio espírita brasileiro!
Existe uma ética de respeito ao companheiro de propósito libertário que está sendo quebrada e com isso o próprio movimento intitulado progressista abala.
Se de um lado temos Divaldo eleito o santo dos espiritólicos, do outro temos agressões e cancelamentos que afetam qualquer possibilidade de fermentação progressista.
Lamentável resumo para iniciar o ano das piores previsões sociais e econômicas do Brasil contemporâneo, para nós, os espíritas que atuam na perspectiva libertária, em compromissos de luta por justiça social e preservação da vida.
A voz cristofascista recebe aplausos no topo da ortodoxia. Divaldo Franco ecoa com voz melosa o fortalecimento do bolsonarismo entre os espíritas.
Esse é o texto de reflexão.