Dia das mães Marias

Nesse dia de homenagens pude encontrar entre tantas, uma Maria singular

Ana Cláudia Laurindo- Cientista Social

Nesse dia de homenagens pude encontrar entre tantas, uma Maria singular, sobreviva na memória e na história das gerações que a sucederam, como fruto da sua seara de mulher e mãe. Minha avó paterna, Maria Bento, raiz da resistência que me abrasa a alma, soprada pelos ventos que acariciam a Serra da Barriga e a história de luta do povo negro.

Filha de Antonia Maria do Espírito Santo, nascida na Fazenda Mão Direita e Marcolino Bento, oriundo da Fazenda Sueca, na zona rural de União dos Palmares, Maria foi a mais velha de oito irmãos, sendo a última a desencarnar, em setembro de 2010. Viveu 94 anos!

Fiel a Nossa Senhora da Conceição, se curvava perante a imagem bicentenária que herdou da avó, Tereza Bento. No pé da Serra da Imbira, viveu a infância e lá casou, com Elias Amarino de Oliveira, um negro nascido pelos lados do Sueca. Da mistura de cor criou dez filhos, dos quatorze que pariu. Segundo ela o racismo nunca interferiu no amor dos dois. Ao ser questionada sobre o namoro, sorriu garbosamente e respondeu que “ antigamente tinha respeito, hoje não tem mais.” Completando que “não havia namoro, conversamos um ano para casar com o gosto da família.”

De religiosidade marcante, dizia que “ia a pé para a igreja de Santa Maria Madalena, rezava, e estava todos os anos na procissão. O povo fazia novena para ganhar dinheiro para a festa, botava a foto da santa, tocava banda de pífano, a festa era boa. Mas a grande devoção é com Deus.”

Essa mulher que ouviu falar sobre a segunda guerra mundial na infância, nunca votou nem aprendeu a ler e escrever. Sabia pegar lenha na mata, trabalhar na roça, plantar milho, mandioca e algodão. Cuidar da criação de boi, porcos, ovelhas, cabras e galinhas. Conversando comigo em abril de 2010, disse que em seu tempo “não havia tanta falsidade, tanta coisa ruim.”

Em seus 94 anos profícuos sobre a terra, nunca tomou um gole de água gelada, e seu “pote” de barro, a seguia onde quer que fosse morar. O amor pelos filhos era sua característica-mor, afirmava com força “meus filhos nunca deram trabalho, até hoje não falo deles de jeito nenhum.”

Das roupas lavadas no Riacho Sueca, à pesca do mussum e da aratanha, a dedicação da mulher interiorana à família e ao sustento dela, se expressa em sua vida. Do leite de cabra para alimentar os rebentos às paneladas de fava verde com galinha de capoeira para agradar os netos, entre os quais me vejo, essa Maria pequena no tamanho foi grande em efeito.

Entre e netos, bisnetos e tataranetos perdi a conta! Alguns de nós nem conhece uns aos outros, estamos espalhados nesta geografia alagoana e brasileira, como resultado do amor imenso de uma mulher simples, a Maria que hoje escolhi para homenagear todas as mães!

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