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Covid-19 e o desserviço de Divaldo Franco

Quando a criticidade incentivada por Kardec entra em ação relativamente ao tipo de contribuição do senhor Divaldo Franco ao Espiritismo no Brasil e no mundo (diga-se um desserviço), erguem-se vozes do fundo das cavernas gritando “mas e obra social dele?!” , mostrando que estas cavernas interiores são mais obscuras do que imaginávamos.

Sim, as cavernas da ignorância, que prendem o ser nas comodidades comuns, nas alienações costumeiras, nos atrasos morais deliberados e encobertos por grossas capas de preconceitos. Eis o fenômeno divaldista no meio espírita brasileiro: uma caverna ensombreada pela ignorância!

Acostumado ao posto de pop estar espírita, Divaldo Franco se arroga o direito de dissertar sobre todas as temáticas, e sobre o momento pandêmico, também trouxe sua questionável narrativa:

“Nos dias que vivemos eu tenho a impressão de que um anjo enviado pelo Senhor, compadecido infinitamente da miserabilidade do ser terrestre, trouxe um pequeno monstro invisível a olho nu, que foi soprado sobre a Terra a fim de que as nossas paixões pudessem temê-lo(…)” , pois acirra as amarras fictícias em concepções arcaicas de um Deus punitivo e seres angelicais docemente perversos, que ferem para salvar.

No Espiritismo não existe salvação, mas evolução!

A dor e o sofrimento são consequências da incúria humana em suas expressões majoritárias, e se procurarmos compreender melhor este momento também encontraremos rastros de descaso com as estruturas de saúde, educação, e principalmente com a vida das pessoas, como mola mestra de um sistema cruel, o capitalismo.

O anjo da morte pode ser chamado capitalismo, sim! Mas os “medalhões” espíritas do Brasil se colocam à direita, jantam com autoridades direitistas e apoiam governos conservadores que implantam necropolítica. Assim é mais do que compreensível que tentem transferir para a espiritualidade tudo aquilo que possa revelar a face monstruosa do capitalismo ao qual aprenderam a servir, se integrando em blocos de força política com vieses de fé.

Em outros textos já falamos sobre a incoerência de manter instituições de assistência social ladeando com aqueles que geram os necessitados de assistência. Se o mal se combate na raiz, ela está nas desigualdades institucionalizadas. Conceder benefícios políticos aos maus políticos, geradores e mantenedores das exclusões sociais e todas as fomes que ela comporta, tem sido algo bastante corriqueiro na rota de Divaldo Franco, que posa com estas celebridades, sendo homenageado por esta estirpe.

Sim, não podemos continuar adocicando as palavras: os geradores das fomes são genocidas, e suas doações para obras de caridade encobrem suas responsabilidades aos olhos extasiados do mundo, mas sabemos que a verdade é vista de longe pelo Criador.

Graças ao descaso das autoridades brasileiras nosso povo caminha para o pânico, sim! Após o golpe que foi comemorado pela ala espírita conservadora, umas das primeiras ações do presidente golpista foi congelamento de 20 anos em educação e saúde pública!

Mas não ficou por aí. Elegeram o beligerante inominável, que em apenas doze meses de usufruto da máquina pública brasileira cortou investimento na ciência, nos Hospitais Universitários e esmagou a capacidade de sobrevivência dos mais pobres. Tudo isso sob o beneplácido pseudo-amoroso dos que diziam: “tirou o PT”, “marxismo cultural”, “ideologia de gênero”, “poliamor”, “comunistas”, “esquerditas”, e outros jargões vazios que serviram para anestesiar consciências.

E agora a culpa é de um anjo?

Não senhor Divaldo Franco, a culpa é de quem tem o conhecimento na mão mas não aplica na vida!

Deus, que é amor e misericórdia infinita, não cabe nesta triste definição: “Eu tenho a impressão que o coronavirus foi o segundo elemento que Deus mandou recentemente apiedados de uma guerra nuclear e total, e que o planeta terrestre atrasaria infinitamente seu processo evolutivo.”

As guerras também são responsabilidades humanas, políticas, econômicas, e Deus não atravessa em meio aos nossos erros para nos livrar deles. Pois nos conferiu arbítrio, nos preparou para o aprendizado sobre as leis da vida, acreditando e incentivando a evolução pela superação de equívocos, e este grande erro a ser superado se chama capitalismo, o devorador de vidas que sai incólume de sua palestra tendenciosa.

Mas como não poderia deixar de ser, Divaldo Franco semeia a responsabilidade sobre as vítimas do vírus.

“[..] esse vírus invisível que nos ataca a todos, em particular, aqueles que talvez por uma afinidade psíquica….para nos chamar atenção e respeitar as soberanas leis”.

O pacote foi entregue pronto aos moralistas de plantão, pois apenas os “inferiores” atrairão o vírus por sintonia. Não é possível que isso seja dito sem o devido refutamento, principalmente em tempos de pandemia!

Precisamos que vozes como a de Divaldo Franco falem com honestidade de propósito em benefício das coletividades, ou calem!

Isolamento, distanciamento, higiene, vigilância para com os hábitos e reformulações das relações com o mundo do consumo , são as pautas da vez. Precisamos nos preparar para desafios muito novos no intuito de seguir as orientações dos cientistas em benefício da vitória da vida!

Nunca foi tão inoportuna uma fala de Divaldo Franco.

Pois será com com os pés na realidade, no exercício fraterno do apoio mútuo que a humanidade vencerá o vírus, pois o capitalismo ela só vai vencer quando compreender a virulência que ele porta e transporta para todos os recantos da vida em sociedade.

Agora, usemos prudência sem moderação e deixemos de lado os gurus da fé. Ouçam os cientistas!

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