Contraceptivos: cada vez melhores

Paula Desgualdo – Saúde

Houve um tempo em que autonomia era uma palavra feminina apenas nos dicionários da língua portuguesa. Durante séculos, coube prioritariamente aos homens o direito de tomar decisões, inclusive sobre o destino do sexo oposto. Já hoje, enquanto seus olhos correm estas linhas, mulheres de todos os cantos do mundo fazem escolhas: o que vestir, o que comer, que carreira seguir e… se pretendem ter filhos e quando. Em 1960, esse livre-arbítrio ganhou uma importante aliada.

“Naquele ano, foi liberado nos Estados Unidos o uso da primeira pílula anticoncepcional, que deu às mulheres maior independência sobre seu corpo e facilitou o planejamento familiar”, lembra a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo.

De lá para cá, as estratégias para quem não quer engravidar se tornaram mais variadas e seguras. Entre as opções disponíveis estão a camisinha — que é, também, a maneira mais eficiente de se proteger contra doenças sexualmente transmissíveis —, o diafragma, o dispositivo intrauterino (DIU), além de uma série de métodos hormonais alternativos à pílula, como injetáveis, implante, anel e adesivo.

“E vale notar que os contraceptivos à base de hormônios causam cada vez menos efeitos colaterais”, comenta Luis Guillermo Bahamondes, professor de ginecologia da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista.

Opções, portanto, não faltam. O que falta, segundo um estudo coordenado pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é informação a respeito das particularidades de cada escolha. Nesse esforço científico, foram entrevistadas 9 mil mulheres que, em princípio, queriam usar um anticoncepcional hormonal combinado, ou seja, que contivesse as versões sintéticas dos dois hormônios femininos, o estrogênio e a progesterona.

Ao relatar ao médico que gostariam de aderir a essa alternativa, ouviram informações detalhadas sobre os prós e os contras de cada método — este incluído. Depois da orientação, 28% mudaram a escolha inicial. Isso significa que 28 em cada 100 mulheres iriam usar um método menos ajustado às suas expectativas ou ao seu estado de saúde.

“O aconselhamento é o melhor caminho para selecionar a estratégia apropriada para cada mulher”, defende Rogério Bonassi Machado, presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Febrasgo. E a melhor tradução para aconselhamento é clara: uma parceria entre o especialista e a paciente, considerando até mesmo o ritmo do dia a dia.

A saúde é a primeira a ser impactada quando se pinça, no leque de contraceptivos, o mais adequado. “Quem já teve trombose não deveria confiar em uma formulação combinada”, exemplifica Afonso Nazário, chefe do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo. “Ora, o estrogênio aumenta o risco de coagulação no sangue.” E essa é apenas uma entre diversas situações destacadas pela Organização Mundial da Saúde que merecem a atenção das mulheres.

Deve-se levar em conta ainda a personalidade e as preferências — há quem se incomode em tomar injeções e há quem, ao contrário, de tão desligada, ache bom enfrentar uma picada em vez de forçar a memória para ingerir um comprimido todo santo dia. Isso está diretamente ligado à continuidade do uso.

Por não se adaptarem, muitas usuárias simplesmente abandonam um método sem informar o médico e aumentam, assim, o risco de uma gravidez indesejada. Segundo Luiz Fernando Leite, ginecologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, nada como um bom histórico para ajudar nessa tarefa. “É preciso considerar fatores como idade, peso, se é fumante, sedentária, a rotina diária, se toma algum medicamento ou sofre de doença crônica, e por aí afora”, elenca. Em tempos de consultas breves, nem sempre esse levantamento é realizado. Aí, fica principalmente ao cargo da mulher questionar e não deixar o consultório com dúvidas.

Uma resposta

  1. Bem legal o texto, no sentido de mostrar a evolução em nosso poder de escolha enquanto mulher. Mas ao mesmo tempo um grande incômodo ainda em relação às métodos contraceptivos e a responsabilidade da mulher em relação a isso.
    Nos, mulheres, somos férteis uma média de 6 dias no mês, enquanto os homens são férteis todos os dias. Nós podemo ficar gravidas apenas uma vez em cada gestação, um homem pode engravidar várias mulheres de uma vez só.
    Mas ainda sim a responsabilidade é nossa, basicamente só nossa. E ainda sim homens falam e querem decidir sobre nossos corpos, o texto,.por exemplo, só cita homens, não menosprezando o valor das informações trazidas. Mas não há mulheres que dominam o assunto e ainda têm conhecimento de causa?
    Por mais que digam que os métodos hormonais são cada vez menos com efeitos colaterais, eles tem sim, e muito. O que acontece é que ele cafufla a verdade dos ciclos femininos e de tanto usar-mos chegamos a esquecer como éramos antes dele. Porque então os métodos não hormonais são tão desacreditados e pouco falados? Provavelmente porque não são lucrativos para a indústria e acima de tudo permite que a mulher se conheça e seja dona de si.

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