Celular distrai motorista

Atentos aos desejos dos consumidores, os fabricantes de veículos tendem a dotá-los, cada vez mais, de inovações que reduzem a concentração do guiador

Diário do Nordeste

Recentes estatísticas comprovam que aproximadamente metade dos 126.000 acidentes com veículos ocorridos no Brasil em 2010, nas rodovias federais, foi causada pela falta de atenção do motorista e, em grande parte, pelo uso do telefone celular pelo motorista ao volante. Outro dado aferido é que o número de autuações pelo uso indevido do referido aparelho nas rodovias aumentou 150% no período de cinco anos.

No Ceará, um teste realizado pela Polícia Rodoviária Federal comprovou que o motorista utilizando o celular teve um tempo de reação idêntica ao de guiadores altamente alcoolizados, sendo que os piores tempos registrados foram os daqueles que estavam escrevendo mensagens de texto no pequeno aparelho digital.

Relatório feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) reuniu as principais pesquisas levadas a cabo sobre os efeitos do uso das mensagens de texto ao se dirigir um veículo, tanto em relação às recebidas quanto às enviadas. Concluiu-se que o tempo médio em que os motoristas tiram os olhos da pista aumenta em cerca de 400%, o que lhes faz dirigir de forma notoriamente inconstante, aumentando ou reduzindo a velocidade do veículo sem que haja qualquer necessidade disso. Também passam a invadir 28% a mais as faixas de rolagem e a fazer 140% a mais de conversões incorretas.

Nos Estados Unidos, o Conselho Americano de Segurança dos Transportes vem de expedir uma recomendação taxativa, qual seja a de proibir a utilização pelos motoristas de aparelhos eletrônicos portáteis de uso pessoal, tais como o celular, iPod e todo tipo de dispositivo eletrônico com aplicativos de interatividade. Na mesma recomendação, sugere a instalação de equipamento especial, idêntico àquele que é colocado nos presídios, com o objetivo de bloquear o uso do celular dentro dos carros.

Excelentes resultados foram obtidos com a adoção da citada medida em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde durante três dias em que os aparelhos estiveram fora do ar, o número de acidentes ocorridos foi reduzido em torno de 40%.

Em 35 estados americanos, já se proíbe terminantemente o envio e o recebimento de mensagens de texto ao volante, embora se permita a utilização de aparelhos com funções de viva-voz. Ao todo, 30 países limitam a utilização do telefone, mas em alguns casos, a exemplo de Portugal, foi banido por completo o uso, inclusive da viva-voz.

O Código de Trânsito Brasileiro proíbe o uso do celular e a remessa de mensagens de texto, embora não se refira às chamadas tecnologias “hands-free”.

Verifica-se, entretanto, que a grande maioria dos motoristas se opõe a qualquer restrição nesse sentido, embora esteja suficientemente provado que a interatividade causa distração e constitui um perigo potencial de acidentes de trânsito.

De modo geral, as pessoas já criaram o hábito de uso do celular em qualquer lugar, abrindo mão, por incrível que pareça, até mesmo do natural zelo com a própria privacidade de suas conversas. O perigo aparece quando esse hábito se manifesta no momento em que a pessoa assume o lugar de motorista.

Atentos aos desejos dos consumidores, os fabricantes de veículos tendem a dotá-los, cada vez mais, de inovações que reduzem a concentração do guiador. Torna-se, portanto, necessária a adoção de medidas acauteladoras, com o objetivo de tolher, a tempo, os efeitos altamente danosos que o preço da modernização pode vir a causar no futuro.

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