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Casal: leilão extingue subsídio cruzado e põe dúvidas sobre futuro do abastecimento

Como será o abastecimento da área rural, após o leilão da região metropolitana da Casal?

Talvez essa seja a principal pergunta envolvendo o futuro da água encanada para os alagoanos.

Na ação judicial movida pelo sistema de abastecimento de água e esgoto da cidade de Marechal Deodoro- acatada pela desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento, suspendendo o leilão da Casal programado para esta quarta-feira- reclama-se que o projeto do Governo estadual não levou em conta a autonomia dos municípios e nem todas as cidades foram ouvidas sobre o leilão.

O que seria arrematado era a área mais lucrativa da Casal.  E bem abaixo do preço, com projeção de lucros futuros para a empresa ou consórcio compradores de até R$ 29 bilhões.

E as regiões que dão prejuízo? Como um Estado tão pobre como Alagoas vai arrumar dinheiro para elas ?

O Governo vai anunciar um pacote de 300 milhões de reais em investimentos, nas áreas que estão fora do leilão.

Esse dinheiro virá: do leilão (lance inicial é de 15 milhões de reais) e o que faltar, do tesouro estadual.

A área metropolitana inclui a Casal e os sistemas municipais de 12 cidades que funcionam sem depender da estatal e não têm qualquer relação com a companhia.

Formam o filé mignon do saneamento alagoano. Ou seja: um pedaço que dá lucro. E é exatamente o que está à venda.

Pelo modelo atual, cidades mais ricas ajudam a financiar o saneamento em outras mais pobres e carentes. É uma regra chamada subsídio cruzado.

Sem este modelo, ficaria impossível regiões mais pobres, como o sertão e locais serranos, pagarem pelo uso da água. Porque, nos custos, estão incluídos a captação, tratamento, bombeamento e distribuição, envolvendo, além da água, os custos de energia elétrica nesta operação.

Só que há quatro anos seguidos, a Casal dá lucro. Ano passado, fechou em R$ 65,8 milhões. Segundo o edital de leilão, o lance inicial de venda da área metropolitana atendida pela companhia ou fora dela é de R$ 15 milhões.

Em 35 anos, a empresa vencedora terá de investir R$ 2,6 bilhões- R$ 2 bilhões em até 8 anos, divididos assim: universalizar o abastecimento de água em seis anos e rede de esgoto para 90% da área leiloada até o 16º ano do contrato. 1,5 milhão de pessoas devem ser atendidas. Alagoas tem 3,3 milhões de habitantes.

Cálculos do Sindicato dos Urbanitários mostram que, neste período, quem comprar e administrar o “filé mignon” da Casal vai lucrar R$ 29 bilhões.

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