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Carnaval 2020: peitos, censuras e resistências

Quando era ainda uma menina leitora, folheando uma revista aleatória em um lugar alheio qualquer, me deparei com uma frase interessante, na qual uma mulher afirmava que a única inveja que sentia dos homens era a de poder tirar a camisa e sair com os peitos à mostra pelas ruas em dias de calor.

Nunca tinha prestado atenção a esta “proibição” até aquele momento.

Como cresci no interior, conhecia até um caso de casamento por causa de um esbarrão da mão no peito de uma donzela, deixando a pobre certa de ter perdido a virgindade. Peitos eram elementos altamente definidores de poder sobre o corpo da mulher.

Em 2020, o bloco carnavalesco Vacas Profanas, no município de Olinda, centro do brincante estado de Pernambuco revelou o retrocesso brasileiro na forma de perseguição estatal aos peitos das mulheres.

Uma mulher adepta do bolsonarismo e parlamentar pelo PSC, Clarissa Tercio, acionou a polícia para que prendesse as mulheres que cometessem “crime de ato obsceno” em plena segunda de carnaval, no chão da irreverência e da folia.

Desde que as ideias mofadas por um conservadorismo perseguidor ganhou espaços de fala no Brasil de agora, até o ato sublime da amamentação foi tido como expressão de sexualização, levantando polêmicas que envolvem principalmente religiosos fundamentalistas.

Mas o pano de fundo de tudo isso é o mesmo: o patriarcado e sua tentativa ininterrupta de posse violenta sobre o corpo feminino.

Assim sendo, a nossa luta é a mesma: autonomia da mulher sobre o próprio corpo!

E a resposta das mulheres do bloco Vacas Profanas foi um círculo de incontáveis mãos dadas, em movimento sincrônico a cantar “Anunciação”, como uma profecia de vitória a esta resistência.

Nossos corpos têm donas!

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