Bolsonaro terá palanque para atacar os Calheiros, em Alagoas

Enquanto os senadores da CPI da Covid avançam nas investigações sobre os gastos federais na pandemia e possível inação de Jair Bolsonaro, os bolsonaristas preparam um sofisticado palanque em Alagoas para receber o presidente da República nesta quinta-feira, 13.

A ideia é que ele possa atacar o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB) e o governador Renan Filho (MDB).

Além disso, Bolsonaro deve detalhar informações sobre um dossiê com acusações de corrupção envolvendo o governador alagoano. Pistas sobre o dossiê foram dadas pelo presidente em uma live na semana passada. A revista Época falou da existência deste documento.

A assessoria de Bolsonaro não convidou o governador para o evento programado para amanhã. Mas, estão na lista o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Fernando Collor (PROS), ambos opositores dos Calheiros.

Em Maceió, o presidente vai inaugurar o conjunto habitacional Oiticica, no bairro do Benedito Bentes, e um viaduto na principal avenida da capital. Também pode sobrevoar bairros que estão afundando, por causa das atividades de mineração. Vai ainda à cidade de São José da Tapera inaugurar uma dos trechos do Canal do Sertão.

A visita de Bolsonaro deve servir para reafirmar seu apoio à reeleição de Collor no próximo ano e fidelizar a posição de Arthur Lira.

A Câmara tem mais de uma centena de pedidos de impeachment contra o presidente da República, todos parados, por ação do presidente da Casa.

O Estadão revelou na semana passada a existência de um orçamento secreto, usado para contemplar escolhidos do governo Jair Bolsonaro.

Na lista, está Lira.

O Governo teria destinado 3 bilhões de reais, boa parte para compras de equipamentos agrícolas e tratores.

Dinheiro para a “compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo governo”.

Lira, segundo jornal, recebeu 114 milhões de reais.

“Não há orçamento secreto, mas diferentes formas de se fazer emendas”, argumentou Lira.”Houve excesso por parte do jornalismo”, atacou.

Visita

Essa é a segunda visita de Bolsonaro a Alagoas desde que ele assumiu a Presidência da República. Na primeira, foi à cidade de Piranhas, inaugurar uma adutora fantasma.

Em janeiro, na cidade de Propriá (Sergipe), ele esteve ao lado de Collor para inaugurar a ponte que liga o município a Porto Real do Colégio (Alagoas).

Bolsonaro vem a Alagoas no instante em que a CPI da Covid mira os gastos do Governo Federal na pandemia.

Renan Calheiros, pai do governador alagoano, disse em entrevista disse que o Brasil “virou o cemitério do mundo” e prometeu que a comissão não deixará pessoas impunes, recado a Bolsonaro.

Investigação

Na pandemia, o Consórcio Nordeste negociou a compra de 300 respiradores pulmonares. 30 seriam entregues a Alagoas. Os equipamentos nunca chegaram. A mesma coisa aconteceu com os outros estados da região.

Alagoas e outros estados entraram com uma ação na Justiça baiana para a devolução do dinheiro com juros e correções monetárias.

Segundo Renan Filho, os respiradores foram comprados com dinheiro próprio, ou seja, dos cofres alagoanos.

Ele espera a devolução de R$ 4,4 milhões da transação.

As investigações apuram suposta prática de estelionato, dispensa de licitação sem observar formalidades legais e lavagem de dinheiro.

A Justiça da Bahia determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal da HempCare. A empresa teve bloqueio dos valores usados para a compra dos respiradores, além de pedidos à Unidade de Inteligência Financeira (antigo Coaf) para que se identifique a movimentação financeira dos réus na ação, que corre em segredo.

A CPI da Covid investiga o dinheiro repassado aos estados pelo Governo Federal durante a pandemia. Mas, segundo ficou definido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), isso não abrange o uso deste dinheiro nos estados.

Palanque

Ontem, o vereador Leonardo Dias (PSD) fez questão de mostrar o local onde o presidente promete discursar, durante um aparte pedido ao vereador Chico Filho (MDB).

O palanque também deve receber o prefeito de Maceió, JHC (PSB), e o presidente da Assembleia, Marcelo Victor (SDD).

Victor deve assumir o Governo alagoano em abril do próximo ano, quando Renan Filho pode renunciar ao cargo para disputar a única vaga ao Senado, com Collor.

Além disso, é a primeira vez que Leonardo Dias e JHC dividem o mesmo palanque após desentendimento entre ambos. O prefeito acusou o vereador de liderar uma carreata pró-Bolsonaro em Maceió no dia 14 de março, um domingo, que invadiu e atrapalhou a vacinação de idosos em um posto montado no estacionamento de Jaraguá.

Dias negou liderar o movimento. O PDT entrou com pedido de cassação do mandato do vereador.

.