Bergoglio assume desafio de Ratzinger e de João Paulo II

Francisco Borba Mibeiro Neto- Estadão

A citação a Bento XVI, feita por Francisco na homilia da missa em Aparecida, não foi formalidade ditada pelo lugar e pela circunstân­cia. “O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”: uma frase mística e cristocêntrica, que afirma a importân­cia de Cristo tanto na esfera religiosa quanto nas outras dimensões da vida.

Sem a experiência religiosa do encontro com Cristo, a pessoa não tem a esperan ça de superar o medo do mal e da morte, a gratuidade que liberta o amor do egoísmo, a solidariedade incondicional que permite construir um futuro melhor para a sociedade. Trata-se de afirmação polêmica para um mundo laico que vê a religião como muleta psicológica facultativa, bem ao estilo de Bento XVI. E en­dossada por Francisco.

A homilia se entrelaça com o discurso no Rio. Francisco não foi a qualquer hos­pital, mas a um “polo de atendimento integral a dependentes químicos”. Ali, disse que a função da Igreja não é conde­nar, mas prestar solidariedade que gere esperança e força necessárias à supera­ção. Tanto em Aparecida quanto no Rio, fala da moral católica e de seus valores maiores: solidariedade, fraternidade, amor, alegria, esperança. Não um moralismo de condenação e fechamento, mas uma moral positiva. Uma moral em que os vetos existem, mas ganham seu real sentido de defesa do amor e da reali­zação – afinal, o mal sempre deverá ser condenado se queremos o bem.

Reapresentar a moral católica dessa forma positiva era uma das grandes lu­tas de Bento XVI e João Paulo IL Mas ambos não conseguiram quebrar a men­talidade hegemônica na sociedade, que vê no catolicismo apenas proibições, E esse será um dos maiores desafios de Francisco: mostrar ao mundo a moral católica como amor e esperança. Seus antecessores, lá na vida após a morte ou na oração reclusa, torcem por ele!

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