Aumenta denúncia contra truculência de PMs

De acordo com o relatório de prestação de contas da Ouvidoria, o órgão recebeu 408 denúncias em que testemunhas e familiares relatam o envolvimento de agentes da segurança pública na morte de civis, o que dá mais de um registro por dia

Diário de São Paulo

Henrique Barbosa da Silva, 18 anos, foi morto com dois tiros na cabeça por dois PMs que tentaram simular uma resistência seguida de morte para ocultar o assassinato do jovem no último dia 18 na região do Grajaú, Zona Sul da capital paulista. Relatório da Ouvidoria da Polícia do estado de São Paulo, divulgado nesta quarta-feira, revela que o  episódio pode não ser apenas um caso isolado: a suspeita da participação de policiais civis e militares em execuções cresceu 12,08% em 2011.

De acordo com o relatório de prestação de contas da Ouvidoria, o órgão recebeu 408 denúncias em que testemunhas e familiares relatam o envolvimento de agentes da segurança pública na morte de civis, o que dá  mais de  um registro por dia.

Em 2010 foram 364 denúncias de homicídios envolvendo homens da segurança pública.

Dentre o total de casos do ano passado, 345 têm participação de policiais militares, o equivalente a 84,5%. A capital tem 551 policiais sob suspeita de participação em 204 casos de homicídios com 246 vítimas. Outras 15 mortes de autoria desconhecida podem estar relacionadas a agentes da polícia.

A Ouvidoria acompanha ainda 41 agressões, 40 constrangimentos, 36 abusos de autoridade, 21 lesões corporais, 19 abordagens em excesso, 14 invasões de domicílio, oito prisões arbitrárias e três casos de discriminação só na cidade.

Entre os crimes contra a administração pública, a natureza que lidera as denúncias é a corrução – 121 policiais são averiguados. No total, foram 1.608 denúncias de todos os gêneros envolvendo policiais militares e 708 envolvendo policiais civis. A campeã das reclamações sobre PMs é a ausência de policiamento e para policiais civis é a não  intervenção em pontos de vendas de drogas.

CONSCIENTIZAÇÃO/ A Secretaria da Segurança Pública afirma que o crescimento de denúncias na Ouvidoria reflete a maior conscientização da sociedade em relação a seus direitos. A pasta afirma ainda que a violência policial diminui ano a ano graças ao trabalho das corregedorias. O número de mortos em supostos confrontos com a PM diminuiu 11,5% em 2011 (438  casos contra 495 no anterior). Na contramão,  o registro de homicídios cometidos por policiais em dia de folga teve alta de 27,1% – de 118 casos em 2010 para 150 no ano passado.

Praças da PM lideram quadro de denúncias Os cabos da PM Luiz Vianna Labella, 47 anos, e Cássio Andrade Bigas, 35, foram presos em flagrante pela execução de Henrique Barbosa da Silva no Cantinho do Céu, Zona Sul.  Depois da morte, policiais da área ameaçaram a família do jovem. Eles negam as acusações.

Na última semana, o secretário Estadual da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, declarou “não ser possível se iludir que todos os casos registrados realmente são resistências [seguidas de morte]”.    A lei prevê que nesse tipo de caso o crime a ser investigado é o de homicídio e a legítima defesa deve ser comprovada no decorrer do inquérito policial. Mas não é esse o procedimento adotado em São Paulo.

Assim como Labella e Bigas, são os praças que lideram as denúncias recebidas pela Ouvidoria da Polícia. De 1998, ano do primeiro estudo disponibilizado pelo órgão, até 2011, subtenentes, sargentos, cabos e soldados protagonizaram 68,9% das 21.647 denúncias contra a PM. Destas, apenas 5.195 geraram punições.

Contra a Polícia Civil, os mais denunciados são os investigadores, representando 33,6% das 12.072 denúncias. A estatística de 13 anos de trabalho da Ouvidoria mostra que apenas 951 policiais civis foram punidos.

Desde a morte de Dileone Lacerda de Aquino, executado por PMs dentro de um cemitério na Grande São Paulo em abril do ano passado, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) investiga mortes cometidas por policiais. Das 392 sob responsabilidade da delegacia especializada, 30% já foram esclarecidas. Apenas três policiais foram presos até o momento. No restante das investigações  ficou comprovado que a ação foi legítima.

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