Na sexta, 01 de março os movimentos de mulheres alagoanas reuniram força e brado contra o feminicídio no interior do Shopping Pátio, na parte alta da cidade, lugar onde ocorreu um assassinato seguido de suicídio por parte do ex-companheiro da gerente comercial Valkíria de Brito Cavalcante, uma semana antes.
O crime teve requintes de crueldade, no dia do aniversário da vítima.
O feminicídio é uma tipologia criminosa que envolve inúmeros elementos culturais, sendo o principal deles o senso de posse do corpo e vida de mulheres, principalmente por ex-companheiros ou companheiros insatisfeitos. Segundo a delegada de polícia civil Ana Luiza Nogueira, em oitivas com acusados de cometer este tipo de crime, já ouviu como justificativa para o ato um erro da mulher na forma de cozinhar um ovo para o marido.
O perfil feminicida tem sido não apenas tolerado, como incentivado pela sociedade, que o associou a questões de honra e masculinidade. Assim sendo, a luta contra a violência de gênero é um compromisso diário, a envolver todos os órgãos e instituições, espargindo indignação contra o machismo, patriarcalismo e misoginia em cada indivíduo.
As vozes que se reuniram no ato realizado no shopping expressaram desde solidariedade aos familiares de Valkíria, que estavam presentes, a um chamado público no combate à violência contra a mulher para sensibilizar na desconstrução da normalidade do crime.
Quando o homem não aceita a decisão da mulher em romper um relacionamento, costuma utilizar artifícios para a desonra do seu nome, que sempre foi um recurso violento para angariar apoio social na perseguição e violação dos direitos dela, inclusive o de viver.
A perda de vidas para uma cultura cruel pede o envolvimento de homens e mulheres na luta contra a violência que conduz ao feminicídio, assim como a sociedade organizada cobra do poder público políticas efetivas que beneficiem as mulheres, muito antes de estas precisarem chegar às delegacias ou terem seus corpos sepultados.
Após realização do ato, o shopping onde Valkíria trabalhou, e nele morreu, ficou impregnado com o eco do seu nome gritado por dezenas de outras mulheres de Maceió: Valkíria, presente!
