BLOG

Aparecida e o incômodo à direita e esquerda

Ocupada e comprometida com o livre pensamento mesmo neste momento histórico que nos incita a debandar para os lados dos supostos mais fortes, encontro cada vez mais razões para não simplificar as intencionalidades sociais.

Apesar de ter sido veemente nos posicionamentos políticos contra o inelegível que deveria ser preso por crimes reais contra a vida de pessoas, animais e plantas, não sigo a ciranda de louvores ao governo de Lula, o presidente no qual votei acreditando defender o estado democrático de direitos.

Foi para poder criticar com responsabilidade cidadã que votei no PT, e há muito não o compreendo como partido de esquerda, haja vista as disposições liberais que o perpassam, principalmente em Alagoas.

Manter a noção de princípios éticos para o exercício da cidadania não tem sido fácil. Narrativas que corroboram com o desmonte destes princípios brotam dos discursos de todos os espectros mapeados e categorizados, desde que seja para defender um interesse imediato tornado comum por quem discursa, mesmo que na verdade não seja interesse de todos, nem possua natureza legal.

A farra da perseguição ao pensamento e expressão ameaça a todos, mesmo que a primeira vista tente ser mostrada como elemento de contenção e punição para serem usados “apenas” com os “nossos” inimigos.

O caso da jornalista Maria Aparecida volta à lume como exemplo disto. Embora, esteja vindo de Brasília esta falsa sensação de justiça a partir de determinações aplicadas contra os bolsonaristas, mas que abrem precedentes para um futuro terrível que nos alcançará em vasta medida, quando o pensamento desagradar ao poder.

A democracia está balançando no fio tênue do autoritarismo há muito tempo, rememorem as narrativas de ameaça terrorista ainda no governo da presidente Dilma, quando o pânico começou a buscar brecha legal para punir com mais severidade.

Nos quatro anos perdidos para a civilidade, só tivemos registros de discursos autoritários e incitadores de ódio e desagregação, e talvez isto tenha se imbricado até mesmo nos conceitos progressistas, quando inclinou os indivíduos a buscarem punição com aprisionamento para desafetos políticos.

Passamos a normalizar revides violentos como mesclas de jargões políticos de esquerda, e a lacração se tornou inquestionável.

Enfrentar um lacrador virou ameaça de cancelamento.

Retomando a análise para a prisão da jornalista em Alagoas, é curioso observar que em torno desta questão tornada tabu para os movimentos sociais e até mesmo para os órgãos que dizem defender direitos humanos, se reúnem ideólogos extremistas de direita e de esquerda, assentados no mesmo ponto de consenso: Aparecida “merece” a prisão!

O julgamento da raiva, da passionalidade, frustração, sentimento de desonra e contrariedade política pode ser acatado de modo tão unânime?

Quais os prejuízos históricos deste acordo tácito?

Ela é misógina! Ela é homofóbica! Ela ofende a honra das pessoas! Ela ataca autoridades! Ela pode ser julgada ao arrepio dos códigos legais!

É este país que você defendeu com o voto em Lula?

É esta relação de poder e força que você reconhece como legítima?

Seguimos acompanhando criticamente a manutenção de uma senhora de 73 anos no cárcere por incomodar pessoas da direita e da esquerda em Alagoas.

 

Uma resposta

  1. Caro amigo Odilon, não vejo a idade dela como impeditivo para o cárcere, mas a arbitrariedade de tê-la encarcerado. A questão de os trâmites legais foram realizados. Sou leiga em legislação, mas a pessoa não só é condenada após o trânsito em julgado? Se o que ela fala consegue provar, (não estou dizendo que são mentiras),que seja inocentada. Isso não deveria passar por questões políticas, mas sim jurídicas, infelizmente o poder do dinheiro se sobrepõe à lei. Uma lástima.
    Abraços fraternos!

    Simone Patriota.

SOBRE O AUTOR

..