Ana Cláudia Laurindo- Cientista Social
Quando tombei frente a pior das truculências que ceifara a vida de meu filho no auge dos dezesseis anos de idade, pensei que não haveria mais Natal! Sem brilho, cor ou canções, por instantes parecia que morrer também era o que me restava. Mas não estava errada, eu morri. O que hoje sou é puro renascimento!
A intimidade com a dor me revelou o sentido do Natal de Jesus, o renascimento espiritual, o simbolismo de quem veio à terra demonstrar Amor acima de tudo; e esse amor só existe na renúncia, na assunção completa da doação.
Aquela que festejava Natal com tradições, morreu. Renasci diferente. Natal me fez ver a dor dos peregrinos do crack e a ilusão de quem se arvora no poder terreno para matar; os infanticídios, genocídios, parricídios…só o amor para os perdoar.
Natal me fez ver Jesus para muito além das mesas fartas, visitando as mesas minguadas como resultado da injustiça humana legalizada.
Não pertenço mais ao coro dos alienantes da terra, minha imagem não tem os paetês do luxo, sou um pedaço da solidão dos vencidos, com eles elevo minhas preces por um mundo mais digno de receber Jesus na pessoa humana.
Vislumbro meu filho entre aqueles humildes que cantam hosana ao Deus-Menino, sorrindo para mim enquanto canta o hino da eternidade, com o nascituro amado.
Há muito o que amar na terra ainda, lutas a prosseguir, causas de vida a manifestar prostrando na mesa farta da história os dons da inteligência e as diligências do coração que sente.
Minha humanidade sobreviva une-se aos pastores de Belém, pobreza e anonimato não são crimes. Indiferença à vida e à morte é o mais comum dos crimes deste tempo.
Se no Natal terreno o mercado enriquece, na espiritualização do Natal os espíritos crescem, dimensionam-se em acordo com a fé e o amor que os inspira.
Se eu pudesse efetivar um Feliz Natal o levaria aos pacientes esquecidos dos hospitais públicos; às vítimas de HIV; aos drogaditos e suas famílias…para eles Jesus renasce a cada dia, instigando a luta, a continuidade da jornada. Por eles há Natal!
Para todos os alagoanos vítimas de injustiças e crimes, a Luz divina à esclarecer e confortar, é o que posso desejar neste Natal de estrelas nascendo na noite escura do abandono social nesta terra de caciques, coronéis e marechais.
