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Ameaças de morte, Covid-19, fome: o cenário das convenções em Alagoas

As convenções partidárias começam na próxima quarta-feira em meio à escalada dos casos de Covid-19 em Alagoas; investigação determinada pelo governador Paulo Dantas (MDB) de ameaças de bolsonaristas contra petistas e; o avanço da fome, obrigando os alagoanos a disputarem ossos e pele de frangos.

O Instituto Amigos da Periferia, no bairro do Benedito Bentes, cadastra famílias para receberem, além dos ossos e peles de frango, ossos de boi, doados por açougues do mercado público. Atende 350 pessoas.

A crise também é nacional. 33 milhões de brasileiros passam fome enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente da Câmara Arthur Lira (PP/AL) buscam cortar recursos da arrecadação do ICMS sobre o combustível nos estados e mostrar protagonismo federal com a PEC kamikaze reajustando benefícios sociais até o final do ano.

Porém a quantidade de dinheiro que circula nos governos estaduais incomoda as duas lideranças. Somente Alagoas, o terceiro estado mais pobre do Brasil e líder em analfabetismo e desemprego, vai perder R$ 4 bilhões dos cofres públicos com os cortes do ICMS, restringindo ações do Executivo aos mais pobres.

A escalada de casos de Covid-19, potencializados pelas festas juninas, pressiona a saúde pública. Em 18 de junho, por exemplo, Alagoas não registrou novos casos da doença. Quase um mês depois, 12 de julho, são 470 novos casos.

Esta semana o Comitê de Atenção à Saúde do Tribunal de Justiça determinou o uso de máscaras pelos funcionários durante todo o expediente de trabalho “tendo em vista a alta dos casos de Covid-19 em Alagoas”.

Há duas semanas, a Secretaria Estadual de Saúde alertou para o crescimento de casos da doença e mortes. O Governo voltou a ampliar a quantidade de leitos, insiste na cobertura vacinal (as quatro doses da vacina) e a testagem para Covid-19. O uso de máscaras voltou a ser discutido mas existe pressão da classe política exatamente porque as aglomerações são regra nas convenções partidárias.

Mês passado, a rede privada de ensino determinou o retorno do uso da máscara por professores, alunos e funcionários. Escolas voltaram ao regime remoto de aulas, para evitar aglomerações no ambiente de ensino.

Também é nacional o clima de violência e ameaças de bolsonaristas a petistas, pressionados pelas pesquisas que apontam vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em todos os cenários, prejudicando a reeleição de Bolsonaro.

A escalada de ameaças preocupa o Governo alagoano. Esta semana, na orla de Maceió, uma mulher foi ameaçada de morte por um policial militar porque ela caminhava vestida em uma camisa estampada com a foto do ex-presidente Lula: “depois não sabe porque leva um tiro”, disse o PM.

O caso foi denunciado nas redes sociais mas a mulher decidiu não encaminhar para as autoridades, temendo represálias. Afinal o bolsonarismo opera dentro das forças de segurança e não raro policiais exibem armas nas redes sociais, acompanhadas de palavras de ordem a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Sabemos que atitudes como a ameaça feita a essa senhora que passeava na praia partem de uma minoria que não sabe conviver com o estado democrático de direito e a liberdade de cada um manifesta sua opção eleitoral como neste caso. Mas é fundamental que o governo estadual esteja atento a esse tipo de situação, que vai muito além da provocação. Afinal, houve uma ameaça”, disse Ricardo Barbosa, presidente estadual do PT.

Pessoas próximas a Ricardo- e ele mesmo- foram ameaçados.

“Hoje existe um público novo, gente em que a discussão política transborda, sem limites, não admitem oposição”, explicou.

O filho dele foi fechado no trânsito por uma caminhonete. E o motorista freava o carro, tentando simular um acidente. No vidro do veículo, o filho de Barbosa tinha um adesivo com o nome de Lula.

Uma amiga da família, preocupada, falou com a mãe do presidente do PT. Pediu que Ricardo Barbosa se expusesse menos.

“Eu estava outro dia em um bar no Stela Maris e um policial federal bêbado ficava me provocando, passando pela minha mesa, indo e vindo”, resume.

Estes episódios são mais próximos do petista. Existem outros, como carros arranhados (e todos tinham adesivos do PT no para-brisa) e petistas que carregavam bandeiras e foram atacados por ovadas.

Atos como este são protagonizados pelo mesmo público: bolsonaristas que, estimulados pelo presidente da República, querem “fuzilar a petralhada” além de apoio a movimentos pró-armas.

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