Não conheci a agressividade alheia hoje.
Aos 7 anos uma professora “tomou” meu Coquetel Picolé, no qual havia desenhado um cavalo no pasto e enviaria para ser publicado na edição seguinte, porque na alegria eu resolvi mostrar o desenho a uma colega durante a aula.
Chorei o resto daquele dia e a professora não me devolveu a preciosa arte, que poderia ter significado a primeira publicação nacional de uma criança interiorana que só tinha acesso a este meio pelos correios, vide catálogos da editora Abril.
Outra bomba traumática foi o concurso de cartazes, entre 7 e 8 anos também, quando a temática da “Paz” recebeu um desenho feito por mim mesma na cartolina branca, onde representava uma pomba ladrilhada pela frase: “O elemento básico da paz não é o dinheiro, mas o amor.”
Acompanhando a comissão julgadora vi e ouvi uma moça desclassificando meu trabalho, porque não era “de criança”, mas de adulto.
Fui aprendendo a sobreviver entre lágrimas, a muitos julgamentos duros, com ranço político, quando a juventude chegou e trouxe sede de justiça!
Entre uma perseguição aqui, um boicote lá e uma puxada de tapete, entrei na maturidade com muitas marcas de feridas, mas convicta de quem eu era, no que acreditava e sobre o quê valeria a pena versar nesta curta existência terrena que nos engolfa em ilusões.
Mas a dor imensa da retirada do filho, não há como descrever em palavras. Apenas assevero que verguei profundamente e quando levantei ganhei imunidade.
Palavras não me ferem, atitudes eu analiso e perdas são apenas parte do percurso.
Minha sobrevivência é poética!
Não faço exigências pessoais. Partilho meus silêncios com as flores e as crianças.
Minha escrita é dura como a rocha que esmaga e suave como a pétala que beija a terra.
Não havia necessidade alguma de ter sido assim, mas foi. Perdoo os descaminhos e não me disponho a pegar atalhos. Amar é escrever.
2 respostas
Que lindo seu relato. Obrigada!
Que lindo, Ana! Parabéns!!! Amei o “Minha sobrevivência é poética!”