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A subcristã é bolsonarista, mas a revolução é feminista!

Sim, ela me inspirou o relato, e desejo que seja uma crônica ou então que siga seu livre caminho, como tudo aquilo que escrevo, sem querer nada possuir da vida do texto que nasce.

A mulher que se fez perceber eu meu atarefado caminhar falava em tom elevado, daquele jeito que pessoas desejosas de serem vistas e ouvidas costumam fazer; seja aqui ou em qualquer outro lugar.

“Se a esquerda acha ruim, é porque é bom”, asseverava um exemplar da estatística eleitora de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil, nos tornando todos experimentos do laboratório ultraliberal da contemporaneidade.

Mulher jovem e esguia, com rigoroso coque sobre o crânio bem penteado, subevangélica, como a maioria delas.

Passa distante do evangelismo que professa Jesus Cristo como modelo e guia, mas abraça parâmetros morais entranhados na mais profunda visão de um mercado que ela nunca estudou, mas adora e louva, como a um deus. Aplicando regras de condutas pautadas nas exigências alinhadas com as fake news mais populares, na graça recôndita de sentir-se uma mulher de direita, mesmo trabalhando como vendedora em uma farmácia que não lhe paga o salário mínimo.

Fingi não ouvir o despautério (estava deveras ocupada) mas não pude me furtar de acompanhar o roteiro de estranhezas que escolheu, para elogiar as ações políticas de Bolsonaro, todas eivadas de uma benevolência social que apenas os olhos analfabetos de mundo conseguem enxergar. Era o caso.

O perfil jovem, esbanjando colágeno, parecia discrepante ao emitir as palavras envelhecidas, emboloradas, sem esperança real; porque as dores sociais justificadas pelo oportunismo de pertença a um segmento, com embasamento estamental religioso, é blefe diante da consciência de qualquer pessoa.

Me senti alvo dos dardos contra a esquerda, mas não houve mal estar por conta disso. Tristeza mesmo a gente sente ao ver essa mulher orgulhosa de ter colaborado para o desmonte da vida no país do tamanho de um continente.

Já não adianta chamar quem não quer ouvir, entender ou mudar as atitudes, pois apenas as experiências farão despertar, talvez. Mas a proximidade com tais criaturas nos parece cada vez mais desafiadora, e sempre cercada por odores patologizantes, em gente bem arrumada e vestida na moda evangélica austera, ou não.

Um novo padrão de beleza desponta no Brasil: o esquerdista, humanitário, progressista!

Para aceitar convites no facebook, quem não procura saber a linha política do indivíduo solicitante?

E a tagarela que desconhece economia, louvava a derrota da nossa, para manter Bolsonaro na aura mitológica que o círculo subcristão criou para ele.

Uma mulher cruel, capaz de rir da morte e rechaçar a poesia da liberdade, passeava na passarela da aceitação entre suas semelhantes, me ajudando a perceber o quanto este momento é triste para escrever crônicas, mas urge que as escrevamos, para comunicar aos outros elos que permanecemos remando.

Mulheres livres e libertárias do Brasil, sejamos força de resistência inteligente e focadas na luta societária, porque este chão é generoso e precisa de boas sementes.

O exército de zumbis não cresce, mas é renitente.

Firmeza e amorosidade nos tablados do amparo mútuo, porque a revolução é feminista!

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