Ainda tocada no imo da alma pela temática assaz dolorosa do suicídio, vou reformulando as abordagens, antes tão sistemáticas, por outras frases, mais humanizadas.
O rosto que sorri na foto me fala outra vez ao coração, para que os dramas humanos não sejam compactados nem cristalizados em receituários de força, apenas.
O fio tênue da saúde mental balança, ao sabor de inúmeras circunstâncias.
O mimimi da rede social é dor real. E quem faz pouco caso da dor que não sente, por certo, normal também não está; o convulsionamento coletivo tem levado muitos de nós a atacarem uns aos outros por todos os lados, e na plataforma, as estruturas somem debaixo dos pés.
Para compreender necropolítica como ameaça real à vida não é preciso dominar teorias complexas, basta apenas entender que o sistema nos vulnerabiliza para peneirar os predispostos a se tornarem rapineiros; é uma deformação de valores!
Nesta ponte de corda, algumas pessoas boas podem ser vitimadas. Não será por falta de fé, nem de amor, nem de vontade. A queda pode ocorrer por falta de condições gerais para seguir a empreitada, pois os maremotos artificiais afogam braçadas que vêm de longe.
Reagir aos imperativos do egoísmo supremo desta concepção capitalista de sociedade, é segurar nas mãos as sementes do amanhã, para espalhar qualquer ensejo de futuro. Nossas mentes anseiam por portos seguros tanto quanto nossos estômagos reclamam o alimento.
Dias chegam, e nos encontram mergulhados nas próprias enseadas, pois sabemos que precisamos salvar nossas referências, condição sine qua non de continuidade.
O grito do outro pode nos encontrar ensurdecidos, envolvidos nos microproblemas criados para nos afastar dos centros, induzindo ativismo alienado.
Em nós, o conhecimento capitaliza mais dores diárias, porque mesmo quando não podemos estar juntos, sabemos onde a dor está consumindo esperanças. Mas não deveria ser assim, e este desvirtuamento da funcionalidade dos saberes também é intencionalmente veiculado, para que a rejeição ao conhecer se transforme em política existencial de quem se sabe efêmero.
Tem um pedaço de cada vítima nos tablados das nossas histórias, como estratégia de medo, intimidação e enlouquecimento. Estamos sendo testados, como se esta locomotiva aparentemente desgovernada procurasse fragilidades nos seus passageiros pagantes.
Reconhecer que estamos sendo conduzidos para o medo é uma forma de reelaborarmos relações conosco.
Todas as manhãs são oportunidades de revisitar nossos celeiros. Aqueles espaços interiores onde guardamos provisões de memórias e sentimentos tantos, enternecidos e nunca envelhecidos.
Quem possuir mais provisões, se abra à partilha.
Quem estiver esvaziado, não hesite em buscar apoio.
Essa escuridão existencial promovida por sistemas frios e cifrados, haverá de encontrar a luz das nossas candeias se não desistirmos das braçadas, nem dos abraços.
Este espaço se fecha como um círculo afetuoso e assim, o suicídio não trará espectros de fuga para as nossas vidas.
Não é uma bula, nem texto de autoajuda. É uma procura.
A luz não desistiu de nós.