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A fome é a força do coronel

Estudar sociedade é minha sina; um deleite e uma cruz, quando enxergar traz sofrimento, mas impulsiona a luta da gente, no meio das gentes.

Alagoas é uma amostra de Brasil, o lado mais renhido da colonização que opera mentalidades destrutivas, bases estruturais do poder que manifesta crueldade, mas a mediana gente não sente as dores da coletividade, pois cada nicho de interesses aprendeu a só admitir afetação quando o fato alcança a própria carne.

Assim se arrasta pela história, um sonho ininterrupto de vigor do coronelato. Aqui as cores dos olhares, narizes aduncos e cabelos alinhados aos padrões eugenistas já abrem caminhos para o voto antigo; os salões e seus lustres encantados pertencem aos nascidos para mandar. E eles não se fazem de rogado.

Mundo distante dos homens que vestem trajes andrajantes para sulcarem a esperança de ao meio-dia matarem a fome!

Há fome de possibilidades.

Cada pleito eleitoral revela o ardil lodacento dos que tomaram assento nas cadeiras mais cobiçadas, aquelas nas quais deveriam estar os representantes do povo, mas nada vigou além de algozes justificados, legitimados, analfabetizados pelas (in)glórias partidárias.

A poesia continua tímida pelas ruas e praças, apenas se exibindo pomposa para meia dúzia de instrumentalizados nas letras, carentes de sensibilidade social e gozo amplo; desconhecedores das realidades inspiradoras das sobrevivências populares.

Alagoas que cria miseráveis e cadastra a desdita para justificar alpendres e grossas colunas de arrogantes, para no final, sequer chorar a morte das pessoas vitimadas. Almas penadas devidamente registradas.

Essa Alagoas em dor eu não reverencio.

Minha terra de areia e barro tem o cotovelo marcado pelo selo das águas, marcas deixadas na pele de quem mergulha e emerge, apesar de tudo!

Tempo de lamento, é verdade. Mas também de novas criações, pois se tem uma coisa que o colonizador não levou, foi o coração do poeta.

Se a fome é a força do coronel, será nossa madrinha nesta ânsia de transformar barro em arte e resistência.

No silêncio a semente vinga e o inesperado despeja flor.

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