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A favor ou contra na mesa do poder

Discussão delicada ganha as esquinas, praças e tribunas no Brasil. O nascimento de anencéfalos mobiliza igrejas, partidos, associações, gente comum que emite opiniões. Parece que o politicamente correto é uma imposição.

Contudo, nada é mais politicamente correto do que o mesmo direito de opinar, crer e se posicionar, para todos e todas.

Confesso, porém, que no fundo, seria mais empolgante ver o meu país colocando na ordem do dia a vida das crianças que nascem sem perspectiva de crescimento e desenvolvimento psicossocial; trazendo pelas características do lugar onde moram e a pobreza congênita dos pais, imensa possibilidade de sequer irem além da infância.

Começo o devaneio.

Acompanhar pela tv os nobres representantes do meu povo, discutindo e votando pelo crime de deseducar nossas crianças!

Nosso judiciário, ministros e povo votante, assumindo a decisão sobre o futuro dos gestores públicos que não garantem moradia, saúde e educação aos brasileirinhos de cada rincão desse país-continente!

Ver a fome posta na mesa do poder, como pauta inadiável: nenhuma criança brasileira deixará de fazer, no mínimo, três refeições ao dia!

O povo opinando: qual deve ser a pena para os políticos que não garantem investimentos concretos, capazes de mudar a sorte da miséria infantil ? Quantos anos de prisão para quem desvia dinheiro da merenda? Expulsão imediata dos cargos ou pagamento de indenização às famílias das crianças que estão sem receber assistência pública gratuita?

A esperança de mirrar o público exposto ao crack, brotando de uma mobilização nacional em prol da vida! O direito de ser criança brasileira! Ser feliz, alimentada, amada e desejada. Podendo responder à pergunta antiga: o que você quer ser quando crescer?

Ligo a tv e tudo recomeça.

Não sinto empolgação. Não vou opinar. Estou olhando, nesse exato instante, para as crianças que catam lixo, não sabem ler e nunca souberam o que significa ter um lar. Nasceram e cresceram na rua. Sem brinquedos, sem banheiro, sem escova de dentes ou pente. É possível, assim, ser gente?

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