A falácia da redução da extrema pobreza associada ao auxílio emergencial

Aplicativo auxílio emergencial do Governo Federal.

Luciana Caetano- Economista

Li uma manchete esta semana afirmando que o auxílio emergencial havia reduzido a pobreza e a desigualdade no Brasil. À primeira vista, dá até para acreditar que a Covid-19 foi uma coisa boa às famílias pobres. Como cidadã e economista, cabe a mim alguns esclarecimentos acerca da manchete.

A paralisação das atividades produtivas reduziu 29% das empresas ativas no mercado, totalizando 1,3 milhão de unidades de produção fora do sistema. De abril a junho, mais de 12 milhões de pessoas que tinham emprego ficaram desocupadas, somando-se a 12 milhões que já estavam desempregadas no primeiro trimestre do ano. Entre as que ficaram ocupadas, 9,7 milhões ficaram sem rendimento e entre as que ficaram em atividade, muitas tiveram redução de jornada e salários de até 50% só parcialmente compensada com um auxílio emergencial.

No mês de junho/2020, o volume de massa salarial foi quase R$ 90 bilhões inferior ao trimestre nov-dez-jan enquanto o auxílio emergencial foi de apenas R$ 27 bilhões, portanto, 1/3 da perda de salários.

É óbvio que o auxílio emergencial, conquista da oposição ao governo no Congresso, foi essencial para atenuar a tragédia da descontinuidade da atividade produtiva e salvou muitas vidas, a despeito do valor, mas daí supor que esse auxílio reduziu o percentual da extrema pobreza é subestimar a capacidade de compreensão da população brasileira.

Por fim, é possível que essa crise pandêmica tenha reduzido a desigualdade, mas por nivelar a renda por baixo, dada a elevada taxa de desemprego.

E para finalizar, uma frase para reflexão: se o auxílio corresponde à metade do salário mínimo e o número de pessoas fora do mercado do trabalho aumentou, que raio de cálculo foi feito para provar que a extrema pobreza diminuiu?

Luciana Caetano, Economista e professora da Universidade Federal de Alagoas, pesquisadora do Grupo de Pesquisa Dimensões e Dinâmica do Mundo do Trabalho (GDIMT).

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